São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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Emergentes terão de "engolir" moeda forte, dizem bancos

Cúpula do FMI não chega a consenso e empurra o debate sobre taxas de câmbio para encontro do G20, em Seul, em novembro

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Banqueiros e investidores mandaram um recado aos países emergentes e desenvolvidos após a conclusão aguada do encontro anual do FMI (Fundo Monetário Internacional): acostumem-se ao novo equilíbrio da economia global, câmbio incluso.
"A mensagem aos emergentes é: acostumem-se com suas moedas fortes. Estamos em um mundo diferente" disse Philip Suttle, economista-chefe do IIF (Instituto de Finanças Internacionais).
"Os mercados veem isso, se ajustam e colocam capital nesses países. Quem tentar resistir a isso vai fracassar."
Para o diretor-presidente do fundo de investimentos Pimco, o maior na gestão de papeis emergentes, trata-se de uma nova normalidade que impõe desafios a todos.
"Isso aparece na migração acelerada das dinâmicas de crescimento e riqueza em direção aos emergentes", disse Mohamed El-Erian em apresentação do Banco Mundial.
O egípcio disse estar "impressionado" com o Brasil.

AGENDA FROUXA
A reunião do FMI terminou com uma agenda frouxa, em que a principal proposta é o monitoramento do quanto a política econômica de um país prejudica a dos demais.
Mas o modelo e a data de início não foram definidos.
O debate principal em Washington -os desequilíbrios globais e o câmbio, que opõe EUA (com desajustes fiscais) e China (com moeda subvalorizada)- ficou inconcluso, com uma vaga expectativa de definição deixada para a reunião do G20, em novembro, em Seul.
Voz dissonante no IIF, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, enfatizou que os emergentes estão agindo no câmbio para "se proteger".
Mas o brasileiro disse depois à Folha ver risco no fato de cada pais tomar medidas de forma independente. "A otimização de cada uma das partes não vai levar à otimização do mundo, vai levar a uma confusão", disse.
Setubal afirmou que não espera "nenhum desastre" no câmbio e que a bola está nas mãos do G20. Para o banqueiro, no entanto, o Brasil terá de se acostumar com um deficit em conta corrente de até 5% do PIB (para 12 meses até julho, foi de 2,2%).
"É administrável, mas acho importante o setor público aumentar o nível de poupança para acomodar a compra de dólar e manter o nível de reservas", afirmou. Ele espera que o dólar varie entre R$ 1,70 e R$ 1,80.

REGULAÇÃO EXCESSIVA
O IIF, que reúne mais de 400 grandes bancos, reclamou do que vê como excesso de regulamentação imposto às instituições após a crise, o que, afirma, encarece o crédito e solapa a capacidade de financiar a retomada global.
"Algumas regulamentações foram longe demais", afirmou Josef Ackerman, diretor-presidente do grupo, citando o recente acordo de Basileia 3, que fixa parâmetros de alavancagem e proteção para os bancos na tentativa de evitar nova bolha.
Os banqueiros criticaram a tentativa de criar uma lista de "instituições grandes demais para falhar", que acabou fora do acordo pelo temor de que virasse uma lista negra na mira dos governos.


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