São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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CRÍTICA COMÉRCIO INTERNACIONAL

Livro critica "protecionismo à la carte" em relação à China

Para diplomata, limite ao comércio de têxteis e brinquedos não é viável

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Nem o algoz da indústria nacional nem a panaceia das exportações de commodities. A busca por soluções criativas nas negociações com a China é o fio condutor do livro "A Parceira Estratégica Sino-Brasileira".
O minucioso estudo do diplomata Oswaldo Biato Jr., que historia temas cruciais da agenda bilateral com o maior parceiro comercial brasileiro, é fruto de uma tese defendida no Curso de Altos Estudos do Itamaraty.
O livro mapeia os altos e baixos de temas bastante atuais, como o impacto dos produtos importados chineses, a presença da Embraer na China, a abertura do mercado de carne, os investimentos de lado a lado e a exportação concentrada no binômio minério de ferro-soja.
A partir de uma visão privilegiada -Biato Jr. trabalhou na divisão Ásia 1 de 2000 a 2004 e em seguida na representação brasileira em Pequim até 2008-, o livro parte da premissa de que a evolução da China, segunda economia mundial, moldará o futuro da indústria nacional.
Num cenário em que lidar com a China é inevitável, Biato Jr. afirma que "soluções puramente reativas [como o protecionismo] são inócuas e que cabe ao Brasil galgar a escada tecnológica, produzindo bens diferenciados dos chineses e reduzindo custos internos".
O diplomata se mostra cético em relação ao que chama de "protecionismo à la carte", como os acordos para autolimitar as exportações têxteis e de brinquedos ao Brasil, celebrados em 2006. Para Biato Jr., essa estratégia "poderá permitir mais alguns anos de sobrevida para a maior parte desses setores, mas não parece ser viável como política de longo prazo".
Ele argumenta que boa parte da importação brasileira de insumos industriais chineses tem um impacto positivo ao reduzir o custo dos produtos brasileiros.
E ressalta que, em 2004, só 14% da pauta importadora da China era de têxteis, vestuário e calçados, enquanto componentes eletrônicos e mecânicos para a indústria brasileira somavam 48%.

NOVAS ESTRATÉGIAS
A análise dos números faz Biato Jr. recomendar duas estratégias para a indústria brasileira. A primeira é terceirizar para a China partes da cadeia produtiva que demandem mão de obra barata, deixando para o Brasil a parte que agregue mais valor.
Ele defende também uma maior presença brasileira na China, tanto das empresas como diplomática, como parte de uma estratégia de longo prazo para a inserção comercial no gigante asiático.
O livro aponta o Canadá e a Austrália como exemplos para o Brasil. Ambos têm uma presença maior tanto diplomática quanto empresarial e incentivam o intercâmbio cultural com a China.
Os resultados econômicos ocorrem, afirma o autor, de forma paralela a essa aproximação. Os dois países vêm conseguindo, em graus diferentes, aumentar a exportação de produtos industrializados e de serviços nas últimas décadas.
Usando como fonte entrevistas com diplomatas de ambos os países e telegramas diplomáticos, Biato Jr. descreve ainda momentos importantes das relações bilaterais, como o incipiente comércio bilateral dos anos 1980, quando a China exportava petróleo para o Brasil (fluxo invertido três décadas depois), a assinatura da "Parceria Estratégica" em 1993, entre Itamar Franco e Jiang Zemin, as dificuldades nos anos 90, a retomada do comércio em 2000 e a crescente preocupação com os produtos chineses, a partir de 2004.

A PARCEIRA ESTRATÉGICA SINO-BRASILEIRA

AUTOR Oswaldo Biato Jr.
EDITORA Funag
QUANTO download grátis em http://bit.ly/hKR5Wf (440 págs.)


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