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ENTREVISTA DA 2ª
JOSÉ FRANCISCO DE LIMA GONÇALVES
Crédito cresce apesar de taxa de juros alta
Para economista, situação inédita no crédito dificulta diagnóstico de inadimplência
Folha - A economia apresenta
forte expansão por conta do
aumento do financiamento
ao consumo. Quais os limites
da oferta de crédito e da capacidade de endividamento das
famílias?
José Francisco de Lima
Gonçalves - Estamos passando por algo inédito em relação a crescimento e estoque
de créditos, tanto para pessoa física quanto jurídica como proporção do PIB.
Nunca havíamos chegado
a um nível como o atual. Isso
tem um lado bastante positivo e um lado que nos aproxima do escuro de uma situação nova.
Qual o lado bom? Anos seguidos de redução da taxa de
inflação, pagamos a dívida
externa, viramos G20. Isso tira um peso da política fiscal
monumental e tira um peso
da política monetária, igualmente monumental. Junto
com isso, veio uma queda
inédita na taxa de juros.
Houve ainda uma série de
inovações institucionais, que
ajudaram bastante na expansão do crédito. Com destaque
ao crédito consignado e à legislação no que se refere ao
mercado imobiliário, que
acertou a questão de se usar
patrimônio imobiliário como
garantia.
Houve ainda melhoras no
nível de renda da população
em geral, principalmente entre os assalariados.
Nos últimos quatro anos, o
emprego formal aumentou
sua fatia no mercado de trabalho. Isso dá uma garantia
adicional tanto para quem
recebe o salário quanto para
quem concede o crédito.
Apesar do aumento do crédito, ele ainda é muito caro (o
juro médio é de 42% ao ano
para pessoas físicas). Compramos uma geladeira financiada e pagamos uma e meia.
Quando se resolve isso?
Está demorando. O notável é que o crédito tenha crescido tanto, apesar desse custo monumental. Mas o país é
isso. Porque nos anos 80 nós
quebramos, arrebentamos
nossas finanças públicas. Isso exigiu a indexação da
moeda e, anos depois, tivemos hiperinflação e os desdobramentos conhecidos. Só
saímos disso outro dia.
Qual o risco do crescimento
acelerado de um crédito ainda muito caro? Uma alta forte
nos calotes de dívidas?
É muito difícil dizer se o nível atual de inadimplência é
muito alto ou baixo. Eu não
tenho o menor problema em
dizer: tenho muita insegurança em afirmar que este nível é razoável ou que é um nível compatível com o bom
andar da carruagem. Porque
a gente nunca teve esse nível
de crédito. É uma situação
desconhecida. Isso é um
grande desafio.
Mas essa preocupação
com o risco é legítima. É função de quem concede crédito
medir o risco e calibrar. De
outro lado, há a própria desaceleração da economia.
Depende muito do momento em que você está, se
haverá um efeito de saciedade, por exemplo. Quem comprou o primeiro automóvel, o
segundo automóvel, o terceiro automóvel, não vai comprar o quarto automóvel. Há
limites dados pela própria
capacidade da economia.
O Brasil está importando quase 50% a mais do que em
2009, deteriorando as contas
externas. Isso torna evidente
que a economia, puxada pelo
crédito, não dá conta de atender à demanda, não?
O grande risco visível é termos de caminhar para uma
situação de grande deficit em
conta corrente (de resultado
negativos nas transações
com o resto do mundo).
Isso tendo à frente a probabilidade de um evento ruim
lá fora. Nada como a crise de
2008/2009, mas que faça aumentar a aversão a riscos.
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