São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Os países emergentes pagarão a fatura norte-americana

ERNESTO LOZARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O G20 é um grupo constituído por 19 países e representantes da União Europeia. Criado, em 1999, por países desenvolvidos e emergentes para discutir desenvolvimento econômico e o sistema financeiro internacional, o grupo representa 80% do PIB mundial e 85% do comércio internacional.
O G20, do qual os norte-americanos fazem parte, está diante de um dilema: deixar que os Estados Unidos amarguem um período de recessão e reformulem seu modelo de crescimento ou descartar essa possibilidade e continuar apostando que as medidas de estímulos fiscais e de expansão monetária poderão evitar o agravamento da recessão econômica global.
Parece-me que a segunda hipótese prevalecerá, mas será pior para o crescimento e o comércio mundial.
A medida monetária do Fed (o banco central dos EUA) de emitir US$ 600 bilhões para estimular o crédito interno será um fracasso. Essa derrama acarretará dois impactos negativos, dentro e fora do país.
As famílias e as empresas norte-americanas estarão limitadas a tomar empréstimos; enquanto não equilibrarem suas contas, os bancos não vão emprestar, tendo em vista as incertezas econômicas e financeiras. Portanto, essa derrama do Fed não elevará o consumo no nível desejado, tampouco o crescimento e o emprego.
Assim sendo, grande parte dos US$ 600 bilhões vai para os países emergentes.
Estes, por seu turno, adotarão medidas protecionistas para evitar a valorização de suas moedas, impedindo a entrada dos recursos em suas economias. Assim, grande parte dos US$ 600 bilhões ficará empoçada no país.

OBJETIVOS DOS EUA
Esses aspectos são conhecidos pelo Fed. Qual é o objetivo da política monetária expansionista do banco central dos EUA? São dois: criar no mundo um processo inflacionário, aumentando taxas de juros, e promover maior desvalorização de sua moeda.
A desvalorização do dólar acarretará que investidores vendam suas posições compradas em ativos atrelados à moeda norte-americana e procurem outros ativos de menor risco cambial. Criar-se-á mais um impasse para a política de estímulo econômico do banco central e do Tesouro norte-americanos.
O problema central está no desequilíbrio das contas externas entre China e EUA. Ele se reflete no deficit da conta-corrente dos EUA, falta de poupança, o qual gera um enorme superavit nas contas externas da China.
Mesmo com um cenário pior para o comércio mundial, os chineses não vão valorizar o yuan, acarretando desemprego no setor exportador, para tornar mais competitivos os preços dos produtos dos EUA. Querer que os chineses partilhem dos custos da ineficiência norte-americana é uma heresia de política econômica.
O resultado mais provável no encontro do G20 em Seul será, mais uma vez, os EUA inviabilizarem qualquer acordo de sustentabilidade do comércio global que não reduza seus desequilíbrios comerciais com a China.


ERNESTO LOZARDO, professor de economia da Eaesp-FGV, é autor do livro "Globalização - A Certeza Imprevisível das Nações".


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