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ANÁLISE
Os países emergentes pagarão a fatura norte-americana
ERNESTO LOZARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O G20 é um grupo constituído por 19 países e representantes da União Europeia. Criado, em 1999, por
países desenvolvidos e emergentes para discutir desenvolvimento econômico e o
sistema financeiro internacional, o grupo representa
80% do PIB mundial e 85%
do comércio internacional.
O G20, do qual os norte-americanos fazem parte, está
diante de um dilema: deixar
que os Estados Unidos amarguem um período de recessão e reformulem seu modelo
de crescimento ou descartar
essa possibilidade e continuar apostando que as medidas de estímulos fiscais e de
expansão monetária poderão evitar o agravamento da
recessão econômica global.
Parece-me que a segunda
hipótese prevalecerá, mas
será pior para o crescimento
e o comércio mundial.
A medida monetária do
Fed (o banco central dos
EUA) de emitir US$ 600 bilhões para estimular o crédito interno será um fracasso.
Essa derrama acarretará dois
impactos negativos, dentro e
fora do país.
As famílias e as empresas
norte-americanas estarão limitadas a tomar empréstimos; enquanto não equilibrarem suas contas, os bancos não vão emprestar, tendo
em vista as incertezas econômicas e financeiras.
Portanto, essa derrama do
Fed não elevará o consumo
no nível desejado, tampouco
o crescimento e o emprego.
Assim sendo, grande parte
dos US$ 600 bilhões vai para
os países emergentes.
Estes, por seu turno, adotarão medidas protecionistas
para evitar a valorização de
suas moedas, impedindo a
entrada dos recursos em suas
economias. Assim, grande
parte dos US$ 600 bilhões ficará empoçada no país.
OBJETIVOS DOS EUA
Esses aspectos são conhecidos pelo Fed. Qual é o objetivo da política monetária expansionista do banco central
dos EUA? São dois: criar no
mundo um processo inflacionário, aumentando taxas de
juros, e promover maior desvalorização de sua moeda.
A desvalorização do dólar
acarretará que investidores
vendam suas posições compradas em ativos atrelados à
moeda norte-americana e
procurem outros ativos de
menor risco cambial. Criar-se-á mais um impasse para a
política de estímulo econômico do banco central e do
Tesouro norte-americanos.
O problema central está no
desequilíbrio das contas externas entre China e EUA. Ele
se reflete no deficit da conta-corrente dos EUA, falta de
poupança, o qual gera um
enorme superavit nas contas
externas da China.
Mesmo com um cenário
pior para o comércio mundial, os chineses não vão valorizar o yuan, acarretando
desemprego no setor exportador, para tornar mais competitivos os preços dos produtos dos EUA. Querer que
os chineses partilhem dos
custos da ineficiência norte-americana é uma heresia de
política econômica.
O resultado mais provável
no encontro do G20 em Seul
será, mais uma vez, os EUA
inviabilizarem qualquer
acordo de sustentabilidade
do comércio global que não
reduza seus desequilíbrios
comerciais com a China.
ERNESTO LOZARDO, professor de
economia da Eaesp-FGV, é autor do livro
"Globalização - A Certeza Imprevisível das
Nações".
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