São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

RODOLFO LANDIM

Refinarias?


A decisão de implantar mais cinco refinarias vai na contramão da atuação da Petrobras nos últimos anos


AO LONGO dos últimos 56 anos, a Petrobras cresceu transformando-se em uma empresa integrada de energia, atuando não só na atividade de petróleo e gás, mas também em geração elétrica e na produção de biocombustíveis.
Além disso, tornou-se um importante "player" internacional com atividades espalhadas por todo o mundo e é certamente o símbolo de um Brasil que deu certo.
Mas a diversificação e o crescimento trouxeram consigo outro tipo de desafio, que é o de definir para onde direcionar os investimentos da companhia. Essa é sempre uma tarefa árdua, pois passa pela definição de estratégias e objetivos a serem perseguidos e pela difícil decisão de escolher entre inúmeras oportunidades de investimento.
As empresas de sucesso são aquelas que orientam as suas estratégias a partir dos interesses dos seus clientes, dos acionistas, dos empregados e também das necessidades da sociedade. No caso da Petrobras, isso é algo ainda mais forte dada a sua condição de empresa controlada pela União.
Até o final dos anos 60, com a facilidade existente no mundo de acesso a jazidas de petróleo que requeriam baixo custo de investimento e de operação, a atividade de exploração e produção (E&P) de petróleo era proporcionalmente mal remunerada, e as margens obtidas neste negócio eram de tal grandeza que seriam impensáveis as aventuras exploratórias nas bacias sedimentares marítimas, principalmente em águas profundas onde está localizada a maior parte do petróleo já descoberto no país.
Adicionalmente, em um mundo onde o acesso ao capital e à tecnologia era restrito, a atividade de refino era mais bem remunerada. Isso levou a Petrobras a canalizar a maior parte dos seus investimentos, naquela época, para essa atividade.
Hoje, felizmente para nós, essa lógica não funciona mais nessa indústria. Após o primeiro choque do petróleo, que elevou significativamente seu preço, a atividade de E&P começou a absorver uma maior parcela dos recursos de investimento da Petrobras exatamente porque foi ela que passou a gerar maior retorno sobre o capital investido.
Apesar de a companhia ter sempre evitado, nos últimos anos, divulgar os seus resultados econômico-financeiros por unidade de negócio, é de conhecimento público que a atividade de E&P é de longe a mais rentável da empresa. Adicionalmente, devido à escassez de petróleo e a seus elevados preços, a busca por alternativas de suprimento levou as empresas petroleiras a aplicar tecnologias extremamente sofisticadas para a localização de novas jazidas e para desenvolvê-las.
Consequentemente, a alta qualificação requerida para os profissionais atuantes na área de E&P os faz hoje tão ou mais bem remunerados do que os trabalhadores de outras atividades industriais.
Uma decisão relativamente recente e polêmica, que, de certa forma vai na contramão da linha de atuação da companhia nos últimos anos, é a de implantar cinco novas refinarias no país, ampliando a capacidade de refino brasileira para muito além do seu consumo interno de derivados.
A argumentação favorável a essa medida é baseada na visão clássica desenvolvimentista de que deveremos sempre buscar a agregação de valor aos produtos exportados. Assim, seria melhor exportarmos derivados em vez de petróleo bruto.
Esse é, sem dúvida, um caminho correto quando aplicado à grande maioria das matérias-primas, em que o nível de tecnologia empregada costuma ser mais sofisticado e os empregos criados de melhor qualidade à medida que avançamos na cadeia produtiva. Mas seria esse raciocínio também aplicável a essa indústria tão especial?
Qual é então a atividade que, de fato, traz maior valor agregado à Petrobras e à sociedade nos dias de hoje? O refino, com altos custos de implantação, margens relativamente muito mais baixas e geração de empregos em menor número, ou E&P, que, além das vantagens anteriormente citadas, gera enorme arrecadação de impostos sob a forma de royalties, participações especiais e outros? É algo a se pensar.


RODOLFO LANDIM, 53, engenheiro civil e de petróleo, é conselheiro da Wellstream. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve quinzenalmente, às sextas-feiras, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Fernando Veloso



Texto Anterior: Vaivém - Mauro Zafalon: União Europeia perde espaço no total da exportação do agronegócio brasileiro
Próximo Texto: Trabalho: Emprego na indústria tem recuo após oito altas seguidas, diz IBGE
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.