São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Passeio pela praça do mercado


Donos da banca parecem confiantes na economia; "mercado" quer ver algum sangue, mesmo que ritual


A MAIORIA dos patrões e dos executivos superiores de economistas de banco e operadores de mercado está mais tranquila a respeito do desempenho da equipe econômica de Dilma Rousseff do que seus subordinados. No que diz respeito aos governos petistas, não é de hoje que é assim. Mas os executivos maiores de bancos parecem agora ainda mais tranquilos, enquanto as tropas de linha ainda têm faniquitos.
Ainda em 2003, o paloccismo tinha mais confiança das cúpulas executivas e mesmo dos donos do capital do que entre arautos e combatentes das tropas financeiras. No ano da eleição de Dilma, porém, no comando dos grandes bancos dava-se de ombros ou mesmo se via o olhar do torpor do enfado diante de questões sobre a hipótese de os economistas da presidente eleita bagunçarem demais o coreto.
Sim, permanecem os muxoxos sobre o possível estatismo de Dilma. Continua a irritação entediada em relação a gastos do governo desnecessariamente altos. Não se esvaiu o desprezo pela falta de ideias e ações a respeito das burocracias que infernizam os negócios no país, pela falta de capacidade de realizar pequenas reformas sem custo político etc.
Porém, não se identifica nada que comova muito mais os responsáveis maiores pelo sistema financeiro do país. Reclamam mais da mediocridade do que de possíveis maluquices ou de ameaças à ordem. E reclamam, é claro, de impostos.
É verdade que mesmo a ansiedade crítica dos rapazes do mercado foi menor na eleição deste ano, até porque o pessoal está fazendo dinheiro e a economia está relativamente em ordem, ao menos em comparação ao quarto de século de caos ou choques (1979-2003). Houve alguma fofoca histérica quando se decidia a sucessão de Henrique Meirelles no comando do Banco Central, mas até isso passou.
Executivos maiores de bancos ou mesmo seus donos estão mais preocupados com as avarias que o câmbio causa à indústria do que seus subordinados, embora desconfiem das soluções para o problema em debate. Fazem mais comentários sobre infraestrutura deficiente que seus economistas e financistas, talvez porque ouçam mais e mais diretamente as dificuldades de seus pares em outros negócios. Parecem mais pragmáticos, menos ideológicos. É difícil ouvir de um alto executivo de banco conversas grandiloquentes sobre grandes "reformas".
No geral, enfim, os banqueiros parecem mais confiantes no futuro próximo da economia brasileira do que jornalistas especializados no assunto e do que economistas-analistas, no mercado ou universidade.
Mas o pessoal da finança que está no debate público ou que está com a mão na massa está com as orelhas em pé. Querem ver logo um sinal de que o governo Dilma (ou Lula-Dilma) vai cuidar do gasto público -a começar pela definição do salário mínimo novo. Um "bom sinal" seria um mínimo de R$ 540.
A respeito do gasto, querem ver se Dilma começa o governo anunciando "contingenciamento" de gastos -isto é, encolhendo na prática o Orçamento gordo feito por Lula e inchado pelo Congresso. Querem, enfim, saber logo se o novo Banco Central dará pelo menos um grito de "independência" em janeiro, dando um piparote nos juros nem que seja para "jogar para a galera" da praça do mercado, para eles mesmos.

vinit@uol.com.br


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