São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 2011

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ANÁLISE

Plano chinês obrigaria país a abrir fronteira a estrangeiros

JULIO WIZIACK
DE SÃO PAULO

Caso seja efetivado o plano de investimento da taiwanesa Foxxconn, o Brasil terá posto fim a um período de promessas.
O país passou décadas anunciando a vinda dos gigantes da indústria de semicondutores (produtores de chips usados em equipamentos eletrônicos), algo que nunca ocorreu -mesmo diante do interesse concreto dessas empresas.
Desta vez, o Brasil anuncia a vinda de um fabricante que diz que irá produzir no país displays (telas) -componentes dos mais caros da indústria, usados na montagem de computadores, tablets, televisores e celulares.
Caso monte uma operação com 100 mil trabalhadores, como anunciou, a Foxxconn deverá produzir no país com um índice de nacionalização dos itens usados na montagem dos aparelhos -como o iPad da Apple- superior a 65%, já que 20 mil devem ser engenheiros.
A linha de montagem de indústrias estrangeiras (e também nacionais) no país é abastecida em sua grande maioria por profissionais de nível técnico que só precisam juntar as peças importadas.
Com 100 mil ou 20 mil trabalhadores, essa ou qualquer outra operação no país terá um problema: a escassez de mão de obra qualificada.
Anualmente, as escolas de nível superior formam 85 mil profissionais e a indústria estima um deficit de 92 mil por ano.
Resultado: sem políticas para estímulo da formação de mão de obra qualificada, não há outra saída a não ser abrir as portas para trabalhadores estrangeiros.
Os especialistas consultados pela Folha não veem prejuízo na "importação de mão de obra" desde que haja políticas que estimulem esses profissionais a ficar no país ao fim de seus contratos.
Foi o que fizeram Canadá e Cingapura, países pouco populosos e que concederam benefícios aos estrangeiros, criando um mecanismo de "transferência de tecnologia forçada". Acabaram se tornando grandes polos tecnológicos, particularmente no ramo farmacêutico.
Ainda segundo os especialistas, caso as políticas públicas não sejam definidas corretamente já, o país corre o risco de se comportar como a África, onde os chineses chegaram com suas empresas, seus equipamentos e sua própria mão de obra.
Nesse modelo, os países africanos servem de fonte motriz para uma produção exclusivamente focada no crescimento da China, com contrapartida muito restrita para a economia local.


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