São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2010

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Pesquisador do ITA fala em prejuízo de US$ 8 bi

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

A usina hidrelétrica de Belo Monte dará um prejuízo aos cofres públicos que pode chegar a US$ 8 bilhões, se todas as variáveis sociais e ambientais forem incluídas.
A conta é de um pesquisador do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), que fez uma análise de custo/benefício da megausina.
O estudo, porém, foi criticado por um ex-presidente da Eletrobras, que diz ver nele um "viés antibarragem".
Em artigo publicado no periódico ""Water Alternatives", Wilson Cabral de Souza Júnior fatora uma série de custos ""externos" da usina: sobrepreço, atrasos na construção, geração de energia menor do que o previsto e custos sociais -como perda de qualidade da água.
Ele calcula também o que a usina deixaria de gerar de renda por fixação de carbono, já que sua construção induzirá desmatamento.
Esse carbono florestal poderia ser negociado internacionalmente num mecanismo de Redd (Redução de Emissões por Desmatamento), segundo o estudo.
"É uma figura de mérito", reconhece Souza Júnior, já que o Redd ainda não existe -depende da aprovação do novo acordo do clima.
Ele diz, no entanto, que a análise de viabilidade econômica da usina deve considerar um período de 50 anos, prazo no qual faz sentido falar em carbono evitado.
Os números foram usados para alimentar um programa de computador que traçou dois cenários: no primeiro, otimista, a usina traz um benefício líquido de US$ 670 milhões; no segundo, dá um prejuízo de US$ 3 bilhões ao longo de 50 anos.
Isso mostrava que Belo Monte, tal como foi concebida, tinha 28% de chance de não dar prejuízo.

CONTA REFEITA
A conta, porém, foi refeita pelo próprio pesquisador, a pedido da Folha, considerando a nova estimativa de custo da usina divulgada pelo governo -US$ 10 bilhões.
"Neste caso, a inviabilidade é total", afirmou Souza Júnior. O prejuízo, no melhor cenário, é de US$ 1,5 bilhão, e no pior, US$ 7,9 bilhões.
Ele afirma que a única forma de viabilizar Belo Monte é aumentando o endividamento público ou construindo mais usinas a montante da barragem, para regular o fluxo do rio Xingu e evitar que a usina fique seis meses por ano sem gerar energia, como se prevê que vá ocorrer.

"MILITANTE"
"É um artigo militante, apesar da aparência técnica", critica Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ e ex-presidente da Eletrobras.
Segundo ele, o governo está comprometido a não construir mais barragens rio acima no Xingu. ""O estudo diz, "Ah, mas isso pode ser mudado". Não é argumento, isso vale para qualquer coisa."
Mas é na análise de custos que está a principal crítica de Pinguelli. ""Uma obra desse tamanho com capital intensivo só pode ser feita com uma taxa de retorno menor", diz.
"Não dá para imaginar um metrô com retorno de 10%, 15%. Essa obra tinha de ser da Eletrobras, mesmo."
Pinguelli diz que endividamento não é problema neste caso. "Toda empresa opera endividada."


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