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Pesquisador do ITA fala em prejuízo de US$ 8 bi
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
A usina hidrelétrica de Belo Monte dará um prejuízo
aos cofres públicos que pode
chegar a US$ 8 bilhões, se todas as variáveis sociais e ambientais forem incluídas.
A conta é de um pesquisador do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), que
fez uma análise de custo/benefício da megausina.
O estudo, porém, foi criticado por um ex-presidente
da Eletrobras, que diz ver nele um "viés antibarragem".
Em artigo publicado no periódico ""Water Alternatives",
Wilson Cabral de Souza Júnior fatora uma série de custos ""externos" da usina: sobrepreço, atrasos na construção, geração de energia menor do que o previsto e custos
sociais -como perda de qualidade da água.
Ele calcula também o que
a usina deixaria de gerar de
renda por fixação de carbono, já que sua construção induzirá desmatamento.
Esse carbono florestal poderia ser negociado internacionalmente num mecanismo de Redd (Redução de
Emissões por Desmatamento), segundo o estudo.
"É uma figura de mérito",
reconhece Souza Júnior, já
que o Redd ainda não existe
-depende da aprovação do
novo acordo do clima.
Ele diz, no entanto, que a
análise de viabilidade econômica da usina deve considerar um período de 50 anos,
prazo no qual faz sentido falar em carbono evitado.
Os números foram usados
para alimentar um programa
de computador que traçou
dois cenários: no primeiro,
otimista, a usina traz um benefício líquido de US$ 670
milhões; no segundo, dá um
prejuízo de US$ 3 bilhões ao
longo de 50 anos.
Isso mostrava que Belo
Monte, tal como foi concebida, tinha 28% de chance de
não dar prejuízo.
CONTA REFEITA
A conta, porém, foi refeita
pelo próprio pesquisador, a
pedido da Folha, considerando a nova estimativa de
custo da usina divulgada pelo governo -US$ 10 bilhões.
"Neste caso, a inviabilidade é total", afirmou Souza Júnior. O prejuízo, no melhor
cenário, é de US$ 1,5 bilhão, e
no pior, US$ 7,9 bilhões.
Ele afirma que a única forma de viabilizar Belo Monte é
aumentando o endividamento público ou construindo
mais usinas a montante da
barragem, para regular o fluxo do rio Xingu e evitar que a
usina fique seis meses por
ano sem gerar energia, como
se prevê que vá ocorrer.
"MILITANTE"
"É um artigo militante,
apesar da aparência técnica", critica Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ e
ex-presidente da Eletrobras.
Segundo ele, o governo está comprometido a não construir mais barragens rio acima no Xingu. ""O estudo diz,
"Ah, mas isso pode ser mudado". Não é argumento, isso
vale para qualquer coisa."
Mas é na análise de custos
que está a principal crítica de
Pinguelli. ""Uma obra desse
tamanho com capital intensivo só pode ser feita com uma
taxa de retorno menor", diz.
"Não dá para imaginar um
metrô com retorno de 10%,
15%. Essa obra tinha de ser
da Eletrobras, mesmo."
Pinguelli diz que endividamento não é problema neste
caso. "Toda empresa opera
endividada."
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