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ANÁLISE PREÇOS
Uma nova crise global de alimentos pode estar a caminho
PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em dezembro de 2007, o
semanário britânico "The
Economist" anunciava em
sua capa "O fim do alimento
barato".
O biênio 2007/8 assistiu ao
que foi chamado de "crise
global de alimentos", caracterizada pelo aumento generalizado dos preços de commodities agrícolas no mundo
(e no Brasil).
Em termos quantitativos,
podemos olhar para um índice de preços calculado mensalmente pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), baseado em uma cesta
contendo arroz, milho, trigo,
sementes oleaginosas, açúcar, laticínios e carnes.
O pico histórico desse índice foi de 211 pontos, em junho
de 2008. A crise econômica
mundial iniciada naquela
época derrubou o índice para
142 pontos, em janeiro do
ano seguinte.
A partir do início de 2010,
essa tendência de elevação
voltou com grande força, tendo se intensificado nos últimos meses. No mês passado,
o índice subiu 5%, situando-se no maior patamar em mais
de dois anos.
A crise anterior ainda não
foi igualada: o índice continua abaixo de 200 pontos.
Entretanto, a trajetória observada nos últimos meses
mostra uma intensidade de
aumento similar à que levou
ao pico de 2008.
Nesse cenário, as perspectivas são de nova crise global
de alimentos?
Infelizmente, pelo menos
para o início de 2011, existe
uma conjugação de fatores
apontando nessa direção.
Entre esses fatores estão a
redução na oferta de alguns
itens fundamentais, causada
por problemas climáticos em
países produtores e exportadores; o aumento da demanda, em decorrência da recuperação da economia mundial; a redução de estoques a
níveis já historicamente baixos; e o componente de especulação no contexto de taxas
de juros reais próximas de zero nas economias centrais e
queda do dólar nos mercados
mundiais.
Na China, a inflação de alimentos anualizada está em
8%, enquanto nos Estados
Unidos está em 1,4% (o índice geral está próximo de zero).
No Brasil, a inflação de alimentos medida pelo Índice
de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação
Getulio Vargas está acumulada em quase 6% em 2010.
Olhando para os valores
acumulados no mesmo período, os itens que puxaram
o índice da FAO no mundo
também estão em elevação
no Brasil: milho, 6,6%; pão
francês (trigo), 8,9%; carnes
bovinas, 16,3%; e laticínios,
11,3%.
Alguns itens fundamentais, como arroz e açúcar, estão estabilizados nos últimos
meses, mas em patamares
elevados.
Esse é um assunto particularmente importante no Brasil, tanto pela ponderação
dos alimentos no índice de
preços que norteia a condução da política monetária como pelo momento em que o
acesso a uma dieta mínima é
o principal fator capaz de tirar da miséria um número
maior de brasileiros.
PAULO PICCHETTI, 48, doutor em
economia pela Universidade de Illinois, é
professor da EESP/FGV (Fundação Getulio
Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).
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