São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

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Folhainvest

Cenário instável demanda sangue frio

Crise no mundo árabe, terremoto no Japão, dívida na Europa e inflação nos emergentes balançam aplicações

Momento abre espaço para comprar ações baratas, mas a recuperação da Bolsa pode demorar bastante

TONI SCIARRETTA
MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

Crise política nos países árabes e agora um terremoto gigantesco no Japão.
Fora do radar do mercado, essas duas "externalidades" se somam às incertezas quanto à recuperação econômica global, formando uma conjunção de notícias ruins inédita desde 2001 e 2002.
No Brasil, que resistiu bem às últimas tempestades, esse ambiente chega em meio à aceleração da inflação e à credibilidade em construção do novo Banco Central.
O resultado, até agora, foi um sobe e desce desenfreado na Bolsa, que abre oportunidades para caça a barganhas que tanto podem iniciar um ciclo de valorização quanto desabar ainda mais.
Para o consultor financeiro Mauro Calil, o momento é arriscado tanto na Bolsa quanto na renda fixa. Ele não aconselha a Bolsa para quem precisar resgatar o dinheiro antes de um ano ou até a instabilidade terminar. "O momento é de indefinição."
Já o consultor Mauro Halfeld vê na Bolsa uma aposta de longo prazo, que pode render bons frutos àqueles que conseguirem manter o sangue frio e ter paciência.
"Ainda vejo a Bolsa com otimismo. Tivemos crise no Egito, Líbia e agora terremoto no Japão. A Bolsa era para estar desabando. Não está porque tem conteúdo. A chave é a recuperação dos EUA. É uma aposta boa de fazer, mas sem gula. A Bolsa brasileira não está barata", disse.

COMMODITIES X VAREJO
O gerente de fundos de ações do Banco do Brasil, Jorge Ricca, observa que o ano começou com premissas favoráveis. Por um lado, era esperado que as ações do setor de commodities subissem, enquanto empresas ligadas à demanda doméstica (varejistas, construtoras, bancos) seriam beneficiadas pela expansão do consumo doméstico, que segue aquecido.
No entanto, houve saída de recursos dos mercados emergentes devido ao risco inflacionário e depois à crise política nos países árabes.
O resultado é que, dos 17 índices de ações da BM&FBovespa, apenas dois apresentam desempenho positivo em 2011: o do setor elétrico (6,05%) e o do setor de telecomunicações (8,79%).
Essas ações são consideradas defensivas porque as empresas têm geração de caixa constante e não dependem dos cenários de curto prazo.
Já os índices dos setores financeiro (-8,14%), imobiliário (-11,87%) e de consumo (-6,45%) têm forte queda.
Ricca acha difícil o investidor achar barganhas agora.
"O setor de construção civil, por exemplo, sofreu com as incertezas sobre inflação e agora parece interessante. Porém, devido a maior aversão ao risco, a recuperação pode levar meses."
A analista-chefe da corretora Spinelli, Kelly Trentin, também vê boas perspectivas de longo prazo e recomenda aguardar a redução das incertezas para entrar.
Ela orienta o investidor a pesquisar com atenção, pois todos os setores apresentam algum risco no momento. Os bancos podem ser afetados por novas medidas para frear o crédito, enquanto companhias aéreas podem ter problemas com a disparada do preço do petróleo.
"Apesar disso, a Bolsa tem potencial para subir. As empresas vão continuar dando bons resultados, e isso reflete diretamente nos papéis. Os lucros devem crescer 15% em média neste ano", ressaltou.


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