São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 2011

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LEAH MCGRATH GOODMAN

O cassino mundial do petróleo


As autoridades deveriam exigir dos especuladores mais capital próprio para jogar no cassino petroleiro


TENSÕES NO Oriente Médio e na África do Norte, pelo que dizem, são a causa dos recentes aumentos nos preços mundiais dos combustíveis.
Mas, embora o petróleo Brent se tenha mantido acima dos US$ 120 por barril, em Trípoli (capital da Líbia) a gasolina custa menos de 0,10 por litro (cerca de R$ 0,26). Não, não se trata de erro de digitação.
O motivo popular para que aqueles que estão mais perto dos combates, nesse caso, sofram menos do que aqueles que estão mais distantes são os vultosos subsídios líbios. A razão menos popular é que os mercados mundiais de energia foram projetados cuidadosamente para gerar lucros, não importa que tropeços sofram, mesmo que não haja provas claras de escassez real.
A fraternidade dos operadores de energia jamais permitiu que os fatos prejudiquem um bom susto quanto à escassez de oferta. É verdade que o mercado petroleiro, historicamente frágil, está vulnerável a oscilações de preço causadas quando a demanda ameaça subir mais rápido que a produção.
Mas a situação é mais complicada. De fato, aquilo que o presidente Obama não mencionou quanto aos defeitos do mercado mundial de energia, em discurso recente sobre segurança energética, seria suficiente para encher um campo de petróleo saudita.
Nascido das cinzas de uma fracassada Bolsa de comércio de batatas, na região central de Manhattan, o moderno mercado petroleiro conquistou destaque a partir da metade dos anos 1980. Hoje, o movimento diário do mercado petroleiro atinge US$ 600 bilhões, embora números exatos sejam difíceis de obter.
Como acontece no caso de mercados de alta liquidez e sujeitos a viradas de preços repentinos, o de petróleo atraiu especuladores desde o início. O papel deles era permitir que aqueles que prospectam, armazenam e vendem petróleo administrem riscos que, de outra maneira, ameaçariam seus negócios. Leva anos para que o petróleo possa começar a ser bombeado, e por isso a viabilidade dos produtores em longo prazo é crucial para o suprimento. À medida que governos dos dois lados do Atlântico passaram a reexaminar suas regras, houve quem propusesse expulsar totalmente os especuladores do mercado.
Desde a segunda Guerra do Iraque, por exemplo, o valor do mercado futuro especulativo de petróleo mais que triplicou. Ao mesmo tempo, o volume de petróleo efetivamente produzido não subiu na mesma proporção. Os especuladores também vêm prevendo futuros aumentos de preços com base em dados do governo dos EUA. Mas isso surge no momento em que a produção mundial bateu recorde em fevereiro, e oferta maior, em geral, significa resfriamento dos preços.
As regras que governam esses mercados não acompanharam os avanços da especulação. Os especuladores podem operar praticamente sem pagamentos à vista, o que permite que influenciem os preços por meio de apostas pesadas, enquanto arriscam apenas 5% a 10% do valor da transação. O Congresso dos EUA critica as grandes empresas petroleiras em audiências públicas, mas até agora não adotou medidas que reduzam a capacidade dos especuladores para conduzir transações usando capital emprestado.
Em resumo, estamos falando de um mercado que sempre fez o que quis, e por tempo demais. Agora, EUA, Reino Unido e União Europeia estão considerando novas e complicadas regras que tentariam curar a doença por meio do uso de veneno, abrindo caminho para que os participantes do mercado optem por operar em diferentes Bolsas mundiais, a depender da severidade da regulamentação em cada uma.
Em lugar disso, as autoridades poderiam considerar uma solução mais simples: em vez de limitar diretamente a especulação, deveriam requerer que os especuladores arriscassem mais capital próprio quando fazem suas apostas. Elevar as margens, ou a parte das transações que é paga à vista, vem sendo descartado há muito por Wall Street como opção destrutiva. E há um motivo para isso: a ideia funcionaria.

LEAH MCGRATH GOODMAN, pesquisadora do Centro de Jornalismo Ambiental da Universidade do Colorado, é autora de "The Asylum: The Renegades Who Hijacked The World's Oil Market" ["O Asilo: Os Renegados que Tomaram o Controle do Mercado Mundial de Petróleo"]. Este artigo foi publicado originalmente no "Financial Times".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Excepcionalmente hoje a coluna de SILVIO MEIRA não é publicada.

AMANHÃ EM MERCADO:
Rodolfo Landim


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