São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Construção encontra nível sustentado de crescimento

ROBSON GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 2010, a construção deu forte impulso à atividade econômica no país ao crescer sempre à frente do PIB (Produto Interno Bruto). No primeiro trimestre deste ano, o quadro se repetiu. Enquanto o PIB avançou 4,2% ante igual período de 2010, o PIB da construção cresceu 5,2%.
Mas existem sinais de desaceleração. Em março, as vendas de materiais de construção no varejo foram 6,4% maiores do que em 2010. Em janeiro, o avanço havia sido de mais de 16%. Já o consumo de cimento, que havia ultrapassado 5,5 milhões de toneladas em agosto, já caiu 14% desde então.
A pergunta é se são sinais de crise ou de acomodação por conta das medidas de contenção de demanda adotadas desde 2010.
A melhor resposta é: nem uma coisa nem outra. O nível de operação da construção civil mudou de patamar. Quando isso ocorre, é comum observar excessos na fase de aceleração que são corrigidos em seguida.
O exemplo típico é a própria inflação setorial, o INCC, que reverteu a tendência de alta nos últimos meses. A palavra para caracterizar essa dinâmica seria desaceleração, isto é, a construção está encontrando seu ritmo sustentável de crescimento.
Para compreender melhor esse quadro, é preciso diferenciar a indústria de material da construção. No Brasil, de toda a produção de material, metade se refere às vendas no varejo, isto é, para famílias e pequenos empreiteiros. Do restante, 35% vão para construtoras e 16% são vendas intraindustriais, como fios e cabos para os produtores de material elétrico, por exemplo.
No varejo, o aumento no grau de endividamento das famílias pode ter efeito relevante. E algumas medidas recentes, como a elevação do valor mínimo de pagamento das faturas de cartão de crédito, deverão segurar o ritmo de crescimento.
As vendas intraindustriais estão sofrendo com a alta das importações, que se tornaram muito baratas com a queda do dólar. Mas, na ponta das construtoras, responsáveis por mais de 60% do PIB da cadeia, o quadro é bem diferente.
Segundo o Secovi, o número de lançamentos habitacionais até março recuou quase 20% na comparação com igual período de 2011. É um processo de ajuste natural após os recordes no ano passado. As carteiras de obras das construtoras estão cheias e a escassez de mão de obra é uma realidade.
Mas os lançamentos do ano passado hoje são obras que continuarão sustentando o ritmo de produção e emprego, os quais também se beneficiam por conta de obras de infraestrutura. O resumo desse quadro é que a cadeia da construção civil vive um processo de ajuste observado na economia brasileira como um todo.
A desaceleração que está em marcha deve colocar em linha o crescimento da demanda e a capacidade produtiva do setor, revertendo os excessos da etapa anterior e contendo a alta de preços. Trata-se de um ritmo de atividade menor, mas sem bolha.

ROBSON GONÇALVES é professor dos MBAs da FGV e consultor da FGV Projetos


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Caixa arremata por R$ 3,5 bi todos os títulos do porto do Rio
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.