São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2011

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ANÁLISE COMMODITIES

Alta dos preços internos pode limitar a exportação de milho

LEONARDO SOLOGUREN
ESPECIAL PARA A FOLHA

O mercado externo de milho teve seus fundamentos reforçados para a manutenção de preços elevados.
O último relatório de oferta e demanda de grãos divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) sinalizou queda significativa nos estoques norte-americanos de milho.
As estimativas atuais indicam estoque de passagem de 17,65 milhões de toneladas para o ano agrícola 2011/12, o que representa queda de 29,5% em relação às expectativas iniciais.
A queda nos níveis dos estoques está relacionada à frustração nas expectativas de produção de milho nos Estados Unidos.
O clima não permitiu o plantio da área almejada, e os produtores norte-americanos semearam cerca de 600 mil hectares a menos do que havia sido planejado.
A menor área semeada e as condições não tão favoráveis ao desenvolvimento das lavouras levaram o Usda a rever suas estimativas de produção, apontadas agora para 335,3 milhões de toneladas.
Esses números geraram grande ansiedade no mercado, uma vez que representam queda de 7,74 milhões de toneladas em relação às expectativas iniciais de produção.
Como a relação estoque-consumo (relação que mede o percentual da demanda que pode ser atendida pelos níveis atuais dos estoques) de milho nos Estados Unidos já se mostra apertada, qualquer perda nos níveis de produção representa ameaça à garantia de oferta.
O novo cenário levou os preços do milho a registrar forte valorização ao longo da semana passada, com a cotação futura do cereal negociado na Bolsa de Chicago alcançando níveis próximos a US$ 8 por bushel.
No mercado doméstico, as expectativas em relação à produção do milho safrinha também ganharam contornos parecidos.
As perdas de produção em Mato Grosso já superam o patamar de 1 milhão de toneladas e a preocupação em relação à oferta futura também ajuda a manter os preços do milho em patamares elevados no mercado interno.
Na Bolsa de Mercadorias & Futuros, os contratos com vencimento no segundo semestre já ultrapassaram a barreira de R$ 30 por saca de 60 quilos.
Se, por um lado, os preços internacionais do milho trazem competitividade para as vendas externas do Brasil, por outro, os preços praticados no mercado doméstico podem frustrar o potencial de exportação.
Tal fato poderá ocorrer por causa da leitura errônea, que é crônica nesse mercado. A expectativa de redução de oferta maior do que a produção efetiva poderia manter os preços em níveis superiores ao da paridade de exportação.
Consequentemente, as vendas externas poderiam ser limitadas nesse ambiente de preços e, em algum momento ao longo do segundo semestre, a oferta de milho no mercado interno poderia se tornar maior do que sua capacidade de consumo, levando os preços a um segundo ato: o de desvalorização.
Esse comportamento já foi observado no passado e não seria surpresa se houvesse uma repetição.
Esse é o preço que o mercado paga por não contar com estatísticas confiáveis.

LEONARDO SOLOGUREN é engenheiro-agrônomo, mestre em economia e consultor em agronegócio.


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