São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2010

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Lula avalia deixar capitalização da Petrobras para depois das eleições

Governo teme que um eventual insucesso afete o desempenho de Dilma Rousseff nas urnas

Presidente não está satisfeito com projeção do mercado que estipula entre US$ 5 e US$ 6 o valor do barril da União


KENNEDY ALENCAR
DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia a possibilidade de adiar a capitalização da Petrobras para depois do resultado final da eleição presidencial.
Segundo a Folha apurou, Lula passou a considerar esse o cenário mais provável.
Tem pesado mais na cúpula do governo a avaliação de que seria mais conveniente política e economicamente fazer essa capitalização somente depois de decidido quem será seu sucessor.
Há ainda outro obstáculo. O presidente está insatisfeito com a avaliação do mercado de que cada barril que a União dará à Petrobras na capitalização seja cotado entre US$ 5 e US$ 6.
Lula acha esse valor baixo e já disse à Petrobras e aos consultores que estipularão o preço do barril que só aceitará um valor superior. Do contrário, poderia inviabilizar a capitalização.
A União dará 5 bilhões de barris como sua parte na capitalização da empresa. Um preço mais alto significa mais ações. Um preço mais baixo, menos. Interessa à Petrobras um preço menor. E partem da estatal as pressões para uma capitalização o mais cedo possível.
No entanto, cresce no governo a corrente que defende deixar todos os assuntos polêmicos para depois das eleições. Agora, com a entrada da campanha em sua fase decisiva, com o início do horário eleitoral gratuito na próxima terça-feira, o governo quer evitar riscos.
Considera que a candidata do PT, Dilma Rousseff, chegou em vantagem a essa etapa e não quer criar ameaça a essa dianteira.
Se a eleição for decidida no primeiro turno, como Lula acha que será, a capitalização aconteceria em outubro. A data da primeira fase da eleição é 3 de outubro.
Se a disputa ficar para o segundo turno, em 29 de outubro, a capitalização ocorreria em novembro.

MEDO DE INSUCESSO
A capitalização da Petrobras é uma das principais medidas da exploração do pré-sal, projeto em que Dilma esteve diretamente envolvida quando ministra-chefe da Casa Civil.
Um eventual insucesso da capitalização em setembro poderia afetar sua campanha e diminuir a possibilidade de vitória no primeiro turno, cenário com o qual trabalha o presidente da República.
Nas palavras reservadas de um ministro, decisões do porte da capitalização da Petrobras agradam a setores, mas desagradam a outros.
Mais: na hipótese de vitória de Dilma, os investidores nacionais e estrangeiros fariam a leitura de que a exploração do pré-sal ganhará fôlego, o que daria mais chance de sucesso à capitalização da Petrobras.
Pesam a favor do adiamento incertezas econômicas, como a crise europeia e alguns senões do mercado em relação à capitalização.
Para uma ala do governo, a definição política com a eleição do novo presidente ajudaria a dissipar as dúvidas do mercado.
No cenário de vitória do candidato do PSDB, José Serra, ou de outro nome de oposição, haveria incerteza sobre o modo como a nova administração federal conduziria a exploração do pré-sal.
Nessa hipótese, de perda de poder, Lula acha que seria legítimo que o novo presidente decidisse como pretende encaminhar a exploração.
Outro fato que pode atrasar a capitalização é a decisão da Procuradoria da República no Distrito Federal de abrir um procedimento preliminar para averiguar o preço de venda, para a Petrobras, dos 5 bilhões de barris de petróleo. Pode ser o primeiro passo para levar o assunto à Justiça.


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