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OPINIÃO
Registro no Renavam vai valorizar recall
A partir de agora, donos de veículos não poderão ignorar chamados das montadoras para eventuais reparos
MARIA INÊS DOLCI
COLUNISTA DA FOLHA
O governo acertou ao
anunciar a criação do Registro de Avisos de Risco de Veículos Automotores.
Acertou mais ainda ao decidir que o não atendimento
ao chamado das montadoras
para reparo de veículos (recall) passe a constar do Renavam (Registro Nacional de
Veículos Automotores).
Também é positivo que a
determinação valha já para o
próximo recall de veículos.
Mas o intercâmbio de informações deve ser feito de
forma criteriosa para evitar
falhas que possam diminuir
o valor dos veículos na hora
de uma possível revenda.
O recall é uma das mais expressivas conquistas do Código de Defesa do Consumidor (CDC), em seus 20 anos
de vigência.
Não pode ser ignorado pelos proprietários de automóveis, pois isso equivale a saber de ameaças à segurança
própria, de seus passageiros,
e não tomar providências para solucioná-las.
Além disso, um carro com
defeito também é um risco
aos demais motoristas, passageiros e pedestres.
Estima-se que 40% dos
consumidores não atendam
aos chamados das montadoras, absurdo que pode provocar acidentes, ferimentos e
mortes. Desleixo que não se
justifica, pois lutamos para
ter mais direitos. Então, por
que não exercê-los?
Segundo a Folha, de janeiro a agosto deste ano houve
38 convocações de recall (30
de carros e 8 de motos). São
números preocupantes, porque indicam problemas na
gestão de qualidade e nos
controles dos fabricantes.
Se, por um lado, o registro
no Renavam pressionará os
motoristas a atender aos chamados para a correção de
problemas nos carros, por
outro ainda faltarão medidas
para coibir os excessos de erros das montadoras.
Segurança veicular implica não somente os acessórios
de segurança (airbags, freio
ABS, proteção lateral nas
portas) e a qualidade do projeto dos veículos para suportar colisões.
Depende também da confiança que o proprietário tem
-ou deveria ter- em um automóvel zero quilômetro.
GUERRA
Falhas mecânicas deveriam ser exceções -nunca
tendência- em carros que
acabam de sair das linhas de
montagem. Mas as convocações de recall, nos primeiros
oito meses de 2010, envolveram 848 mil automóveis e
204 mil motos.
Temos de combater a negligência dos consumidores
e dos fabricantes. Estes também deveriam ser punidos
quando os veículos que produzem apresentassem, constantemente, motivos para
recall.
O trânsito brasileiro é uma
guerra que ceifa milhares de
vidas todos os anos.
Não é possível que veículos sem condições rodem nas
esburacadas, mal sinalizadas e escuras ruas e avenidas
do Brasil. Que multipliquem
os riscos de acidentes em
nossas lamentáveis e vergonhosas estradas.
Tudo isso diz muito sobre
nosso nível de desenvolvimento humano. Não há ufanismo eleitoreiro que esconda essa triste realidade.
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