São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

RODOLFO LANDIM

Petróleo: preços imperfeitos?


Conhecer detalhes sobre o mercado de petróleo pode evitar grandes dissabores e gerar grandes lucros


É comum ouvirmos nos noticiários que o preço do petróleo subiu ou caiu, mas poucos conhecem ou conseguem decifrar os mecanismos que influenciam o comportamento dessa que é a commodity mais negociada no mundo.
Normalmente, vemos o preço do petróleo relacionado a dois tipos: o Brent (combinação de 15 diferentes tipos de óleo produzido no mar do Norte) e o WTI (West Texas Intermediate). A razão é que os contratos de petróleo, independentemente do local onde é a produção, normalmente têm um desses dois tipos como referência. O valor dos contratos determina um prêmio, no caso de óleos mais leves, ou um desconto, no caso de óleos mais pesados, em relação a eles.
A razão é simples. A maior parte do petróleo consumido no mundo é usada para transporte. Assim, a maior demanda de seus derivados está relacionada ao consumo de gasolina, de óleo diesel e querosene de aviação. Ao serem refinados, óleos mais leves levam a uma maior produção desses derivados. Isso não significa que é impossível obter percentuais semelhantes desses produtos a partir de óleos mais pesados.
No entanto, para que isso ocorra, as refinarias devem ser mais sofisticadas, algo que implica investimentos bem maiores, o que acaba sendo compensado pela compra de óleo pesado a preços mais baixos.
Seguindo essa lógica, o WTI deveria ser negociado a um preço superior ao do Brent não só por ser um óleo mais leve, mas também pelo fato de serem os EUA um mercado importador de petróleo e, no caso de compra de petróleo do tipo Brent, o custo de transporte do produto pelo Atlântico ser "deduzido" (isso porque o WTI já está nos EUA e não tem o custo do transporte pelo oceano). Historicamente, isso foi o que quase sempre ocorreu, mas recentemente essa tendência foi revertida, levando o Brent a um patamar significativamente maior que o WTI.
Apesar de ter apenas uma produção de aproximadamente 300 mil barris/dia ante produção mundial de cerca de 85 milhões de barris/dia, o óleo tipo WTI passou a ser a principal referência de preços do mercado global desde 1983, quando foi escolhido pela Nymex (Bolsa de Mercadorias de Nova York) para ser a base de seus contratos.
Esse papel foi facilitado pelo fato de os EUA serem o maior consumidor e importador mundial. O ponto de entrega de referência para o WTI é Cushing (no Estado de Oklahoma, nos Estados Unidos), onde está localizada uma gigantesca infraestrutura de armazenamento, chave para o abastecimento do parque de refino dos Estados de Oklahoma, de Kansas e do Texas.
Com o desaquecimento da economia americana e a queda do consumo de petróleo, as instalações de Cushing têm demonstrado incapacidade de lidar com o aumento do volume de óleo a elas destinado para estocagem. Como consequência, os preços naquele mercado específico têm sido artificialmente comprimidos pelo estrangulamento da logística local e seus efeitos se alastrado por boa parte do mercado mundial por serem seus preços a base para outros contratos.
Uma observação importante é que os tipos de negócio fechados na Nymex são muito mais sofisticados do que a simples compra e venda física de petróleo. Inúmeros contratos de derivativos são fechados tendo o WTI como referência e, sendo esse um mercado fisicamente limitado, especuladores podem ser tentados a manipular os estoques de Cushing e obter enormes ganhos com a volatilidade gerada. Isso tem criado preocupações para os principais agentes do setor e levantando a discussão se o WTI deveria realmente ser adotado como referência mundial ou se os contratos internacionais deveriam migrar para o Brent, onde o ponto de entrega seria menos suscetível a esse tipo de problema.
Mas, se o WTI é criticado por ter seus fundamentos atrelados a um mercado restrito, em relação ao Brent há reclamações pela falta de transparência da sua estrutura e dos dados que fazem parte dos mecanismos de fixação do seu preço.
Imperfeições fazem parte desse grande mercado. Conhecer seus detalhes pode permitir evitar grandes dissabores e gerar grandes lucros.

RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada duas semanas, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Kátia Abreu



Texto Anterior: Veículos: BMW pede redução do IPI para instalar fábrica no Brasil
Próximo Texto: Internet pode chegar a 80% das residências brasileiras até 2015
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.