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Cliente ganha R$ 120 mi em banco de Silvio
CDB com juros de mais de 30% ao ano é o primeiro indício concreto de desvio de dinheiro no PanAmericano
Suspeita de técnicos
do BC é que taxas eram
infladas artificialmente
como forma de justificar
saída de recursos
LEONARDO SOUZA
DE BRASÍLIA
MARIO CÉSAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
O Banco Central encontrou o primeiro indício concreto de desvio de dinheiro
no PanAmericano.
Um único cliente pessoa física recebia mais de R$ 120
milhões de rendimento por
ano numa aplicação na instituição, a taxas muito superiores às de mercado.
Técnicos do BC suspeitam
que os juros do investimento
eram inflados artificialmente
para camuflar a saída dos recursos. Não se sabe ainda se
o cliente está envolvido no
suposto esquema.
O titular da aplicação é o
empresário Adalberto Salgado, de Juiz de Fora (MG). Ele
mantinha R$ 400 milhões
num CDB (Certificado de Depósito Bancário) do PanAmericano, que o remunerava a
mais de 30% ao ano.
O BC já havia identificado
problemas na contabilidade,
mas não tinha indícios de
desvio de dinheiro.
O CDB é um instrumento
usado pelos bancos para
captar recursos. O investidor
empresta dinheiro ao banco
e recebe juros baseados no
CDI -taxa cobrada nas transações entre instituições financeiras. O CDI segue a taxa
básica da economia (Selic),
hoje em 10,75% ao ano.
Em sua aplicação, o empresário obteve 20% ao ano
de retorno mais o total do CDI
-cerca de 30,75%. O prazo
da aplicação é de cinco anos.
Bancos menores e de médio porte, como o PanAmericano, costumam pagar taxas
superiores ao CDI dependendo do valor investido e do
prazo. Ainda assim, segundo
executivos do mercado, uma
taxa polpuda chegaria a, no
máximo, em torno de 105%
do CDI (cerca 11,3% ao ano).
INTERVENÇÃO
Na semana passada, a Caixa Econômica Federal e o BC
realizaram uma espécie de
"intervenção branca" no
PanAmericano, após a identificação do rombo. No final
de 2009, a CEF comprou
35,54% do capital da instituição, por R$ 739,2 milhões.
A descoberta de uma aplicação tão extravagante só
após a intervenção é um indício de que a fiscalização do
BC cometeu falhas graves no
caso do PanAmericano.
Segundo dois especialistas ouvidos pela Folha, sob a
condição de que seus nomes
não fossem citados, a fiscalização deveria ter notado o
CDB, no mínimo, pelo risco
que o pagamento de juros tão
altos significaria ao banco.
Pela lei de lavagem de dinheiro, o PanAmericano deveria ter comunicado o BC
pelo fato de uma pessoa física ter feito uma aplicação
que só faz sentido para grandes corporações, dados os
valores envolvidos. Nesse caso, as duas formas de fiscalização fracassaram.
Durante a intervenção, o
BC identificou uma série de
irregularidades nas contas
do banco, como carteiras de
crédito já vendidas para outras instituições, mas ainda
contabilizadas no balanço.
Os técnicos do BC, contudo, ainda não sabem dizer se
os erros ocorreram por incompetência ou má-fé.
A Polícia Federal instaurou inquérito policial para
apurar eventual prática de
crimes contra o Sistema Financeiro. Segundo a PF, serão investigados crimes como gestão fraudulenta, prestação e inserção de informações falsas nos balanços.
O Ministério Público Federal também apura o caso.
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