São Paulo, terça-feira, 14 de dezembro de 2010

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ANÁLISE AGRONEGÓCIO

Commodities agrícolas são usadas como proteção monetária

LEONARDO SOLOGUREN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Definitivamente, as variáveis macroeconômicas passaram a ter um peso fundamental na precificação das commodities agrícolas, e muitas vezes, superando os pesos das variáveis microeconômicas (que, nesse caso, contemplam a leitura clássica de oferta e demanda).
A prova cabal da intensificação desse processo pode ser claramente visualizada nos últimos três meses, à medida que a discussão sobre a eclosão de uma possível "guerra cambial" ganhava maiores contornos.
A desvalorização recorrente do dólar levou os fundos de investimento a buscar uma proteção monetária e, nesse caso, as commodities em geral surgiram como um dos melhores ativos a serem buscados.
A lógica por trás disso está relacionada a alguns fatores. Primeiramente, há um fator de demanda. Como boa parte desses produtos é "dolarizada", a queda do dólar torna as commodities mais baratas, elevando, assim, o seu poder de consumo.
Por essa razão, naturalmente as commodities agrícolas se tornam uma proteção monetária.
Em um segundo plano, como a Bolsa de Chicago reflete bastante a condição dos Estados Unidos, a desvalorização do dólar também elevaria a competitividade dos EUA nas exportações, o que justificaria o aumento nos preços das commodities agrícolas.
Nos últimos três meses, a correlação estatística entre os preços do milho futuro cotados na Bolsa de Chicago e a desvalorização do dólar foi superior a 72%, com comportamento inverso, ou seja, à medida que o dólar caía, os preços do milho apresentavam altas no mercado futuro.
Esse processo já vinha ganhando força antes mesmo da eclosão da crise financeira em 2008.
No entanto, a adoção de medidas drásticas adotadas pelo governo americano para impulsionar sua economia doméstica (como a recompra de R$ 600 bilhões em títulos públicos) intensificou ainda mais esse comportamento.
Isso significa dizer que há um peso especulativo sobre os preços das commodities agrícolas e que não são apenas os fundamentos clássicos que explicam a valorização recente dos preços.
Sendo assim, a exposição dos agentes ao risco de preços aumentou de forma significativa, já que as oscilações nos mercados futuros tornaram-se mais intensas.
Como os países que compõem o G20 não conseguiram chegar a um acordo que pudesse minimizar essa "guerra cambial" e, enquanto a economia norte-americana não der sinais concretos de recuperação, tudo indica que essa busca por proteção monetária continuará bastante ativa.
Obviamente que os fatores fundamentais continuam a ter importância, mas, para os agentes que participam das cadeias de produção agrícola, as variáveis macroeconômicas passaram a ter um papel muito expressivo sobre a dinâmica das precificações.
Portanto, a necessidade da adoção de ferramentas de gerenciamento de risco de preços passou a ser fundamental, tanto para os produtores rurais como para os consumidores.
No caso do milho, o Brasil leva vantagem na exportação diante de um cenário de preços internacionais altos, mas perde diante da desvalorização do dólar. Para não perder o bonde das vendas externas, o planejamento público de apoio às exportações para 2011 já deveria estar sendo executado.

LEONARDO SOLOGUREN é engenheiro agrônomo, mestre em economia e consultor em agronegócio.


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