São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010

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FOCO

Governo japonês recorre a sex appeal para vender bônus

LINDSAY WHIPP
DO "FINANCIAL TIMES", EM TÓQUIO

Diante da complicada tarefa de atrair investidores para os títulos emitidos pelo mais endividado dos governos, o Ministério das Finanças japonês optou por uma técnica de vendas inédita.
A instituição lançará campanha publicitária para persuadir milhões de pequenos investidores do país a adquirir títulos do governo. A mensagem tem por base o sex appeal: "As mulheres preferem os homens que têm títulos do governo japonês!... Não?"
Deter títulos do governo talvez não seja o caminho que a maioria das pessoas recomendaria para conquistar o coração de uma mulher, mas, segundo o anúncio do Ministério das Finanças, as mulheres preferem homens que investem nos sólidos títulos do governo porque eles são investidores sensatos.
Anúncio na "R25", revista distribuída em trens, mostra cinco mulheres que dizem ter escolhido maridos que "levam dinheiro a sério" e "investem na estabilidade". A campanha é uma tentativa do Partido Democrata do Japão (PDJ), governista, de liquidar a confusão fiscal herdada dos governos do Partido Liberal Democrata, que dominou a política do país por meio século até 2009.

NAMORO
A mensagem parece familiar. Quando Naoto Kan, o novo primeiro-ministro do Japão, foi ministro das Finanças, instou os funcionários públicos a sair cedo do trabalho para que pudessem "namorar até nos dias de semana". A ideia era revolucionária, em um país obcecado pelo trabalho como o Japão.
Descobrir estratégias que reduzam a dívida pública de US$ 9,5 trilhões é uma tarefa extremamente árdua, especialmente se levado em conta o rápido envelhecimento da população japonesa. O Ministério das Finanças japonês, no entanto, espera que o investidor pessoa física, que controla 5% dos ativos investidos no país, torne-se grande comprador de títulos do governo.
A ideia de adquirir títulos do governo japonês não parece atraente. O rendimento sobre os títulos de cinco anos é de 0,4% anual. Mas, com deflação de 1%, o rendimento real é mais atraente. Os domicílios japoneses mantêm mais de metade de seus ativos em forma de depósitos bancários, com taxa de juros de mísero 0,05%.
Caso a campanha obtenha sucesso, o mercado de títulos da dívida pública talvez não seja o único beneficiário. As mulheres que se sintam atraídas a casar com homens que investem em títulos públicos poderiam ajudar a reverter a queda no número de casamentos no Japão, superior a 30% desde 1972.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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