São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2011

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ANÁLISE MINERAÇÃO

Brasil se mobiliza contra monopólio chinês em "terras raras"

PAULO CAMILLO VARGAS PENNA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Recentemente, a imprensa alardeou manobra chinesa para estabelecer cotas de exportação, o que ameaçava desabastecer vários países de minérios essenciais para a vida moderna.
São as chamadas "terras raras", como é conhecido um conjunto de 17 elementos químicos indicados para aplicação em alta tecnologia: geração de energia, fabricação de motores para carros elétricos e trens-bala, smartphones, notebooks etc. Em artigo, Fernando J. G.
Landgraf, professor associado da Escola Politécnica da USP, estima em US$ 5 bilhões o mercado de "terras raras". O governo federal diz que, em 2010, o mercado mundial de "terras raras" movimentou US$ 2 bilhões.
A pressão internacional foi forte e imediata, o que não impediu a alta no preço das "terras raras" em mais de cinco vezes desde janeiro. A China optou por recuar.
O episódio reabriu no Brasil a discussão de como nosso país poderia ingressar nesse mercado de domínio chinês, considerando a característica estratégica daqueles elementos minerais.
Tanto que o governo criou uma comissão interministerial reunindo Ciência e Tecnologia e Minas e Energia para avaliar a questão. Aguarda-se para breve a divulgação do relatório desse grupo.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, inclusive, há pouco anunciou que uma grande mineradora irá investir na exploração de "terras raras".
Institutos como a Fundação Certi (SC), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (SP) e o Centro de Tecnologia Mineral (RJ), as Indústrias Nucleares do Brasil e a Universidade Federal Fluminense também retomam as pesquisas sobre esses minerais.
O desafio é grande. A produção desses minérios especiais não chega a 1% do total mundial. Os chineses detêm 97% dessa produção e ninguém duvide de que baixarão os preços para sufocar novos concorrentes.
Nas décadas de 80 e 90, a China adotou essa política agressiva. Fabricantes nacionais de superimãs faliram e os pesquisadores brasileiros praticamente abandonaram esse segmento mineral.
É preciso planejamento de longo prazo, consistente e resistente a esse tipo de prática comercial, sob pena de não avançarmos na exploração desses minerais estratégicos. Mercadante diz que o Brasil poderá ganhar competitividade, em especial em energia eólica e na produção de carros elétricos.
Mas é preciso identificar se os locais onde foi detectada a presença desses minérios compõem reservas minerais economicamente viáveis.
Paralelamente, é preciso incentivar a pesquisa geológica -afinal, conhecemos menos de 30% do nosso subsolo. Enquanto isso, os Estados Unidos e a Austrália já anunciam valores de investimentos na exploração das "terras raras".

PAULO CAMILO VARGAS PENNA é diretor-presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).


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