São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2010

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ANÁLISE SIDERURGIA

Chineses destoam de analistas e querem comprar mais minério de ferro brasileiro


NO LONGO PRAZO, AS PERSPECTIVAS SÃO DE QUE AS MINERADORAS BRASILEIRAS VÃO VENDER GRANDES VOLUMES À CHINA

PAULO CAMILLO VARGAS PENNA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Domingo passado, a Folha trouxe reportagem com depoimentos de analistas financeiros que projetam interrupção no ciclo crescente de aquisição de minério de ferro pela China, devido à maturação de grandes projetos, em especial de infraestrutura.
Com isso, alegaram, a tendência seria de "queda significativa nos próximos dois anos" nos preços do minério de ferro, o que "teria efeito negativo sobre as contas externas do país".
Tendo a discordar frontalmente. Para o curto prazo, há sinais de que, após sequenciais elevações negociadas no preço do minério, poderá haver estabilização.
No longo prazo, as perspectivas são de que as mineradoras brasileiras seguirão vendendo grandes quantidades aos chineses. Ouvi esse panorama pessoalmente de empresários e governantes chineses neste mês, quando representei o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) em evento realizado na China.
Isso confronta o que alguns analistas nacionais disseram. A China, reforçaram os estrangeiros, tem de preparar a migração de 800 milhões de cidadãos das áreas rurais para as cidades.
Para tal, o país terá dezenas de anos de investimentos pesados pela frente. E a demanda por minérios vai seguir em paralelo. De 2000 para cá, mais que decuplicamos a quantidade de minério exportada aos chineses.
Falta aos analistas que preveem o pior se aproximarem mais das mineradoras e verificarem que, mês a mês, elas anunciam elevação nos bilhões de dólares em investimentos no Brasil.
O Ibram contabiliza US$ 54 bilhões para o período 2010-14, valor que poderá saltar para US$ 58 bilhões no próximo levantamento -praticamente igual ao divulgado antes do pior período da crise internacional.
São inversões para cinco anos, mas que se multiplicam no longo prazo.
Será que as mineradoras, que têm de antecipar cenários de vários anos para decidir seus grandes volumes de investimento, comungam da perspectiva de corte na compra de minérios?
A mesma edição da Folha revelou que a mais importante mineradora do Brasil está ampliando investimentos, de olho na crescente demanda mundial, seja ela chinesa, europeia ou americana.
Atitudes como essas encontram respaldo nas demais companhias. Nos próximos dias, por exemplo, Belo Horizonte (MG) sediará evento nacional em que mineradoras e universidades avaliarão projetos técnicos desenvolvidos para assegurar ainda mais competitividade à mineração, de olho no mercado externo.
Tal iniciativa servirá também para estimular o surgimento de novos talentos para o setor, uma reação à lacuna de mão de obra especializada que aflige a cadeia produtiva brasileira. Falar agora em queda do preço de minério, vale lembrar, pode favorecer quem apenas especula no mercado financeiro.


PAULO CAMILLO VARGAS PENNA é diretor-presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).


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