São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2011

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FINANÇAS PESSOAIS

MARCIA DESSEN - marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Quem dita o preço de venda do imóvel de José: ele ou o mercado?

Há algum tempo José decidiu que era preciso controlar as despesas da família, convencido de que, com isso, conseguiria comprar mais com a mesma quantidade de dinheiro. Era só uma questão de criar um orçamento para planejar de forma mais adequada a destinação do dinheiro que entra no caixa da família todos os meses.
O orçamento apontou que a taxa de condomínio representa um valor relevante da renda mensal do casal. Como já estavam namorando a ideia de mudar para um imóvel maior, Maria e José acabaram concordando em colocar o apartamento à venda e comprar uma casa, fora de condomínio, visando excluir essa despesa do orçamento.
Estimam que vão gastar cerca de 30% do valor do condomínio com a manutenção da casa. Serão capazes, portanto, de poupar mensalmente 70% do valor atualmente destinado ao pagamento dessa despesa.

QUANTO VALE?
José acha que seu apartamento vale R$ 500 mil. Chegou a essa conclusão porque seu vizinho vendeu o dele, em pior estado que o seu, por R$ 420 mil, há cerca de oito meses.
Baseado no valor de venda do vizinho, mais inflação, mais as benfeitorias feitas em seu apartamento, mais o coração adicionando um valor sentimental, José decidiu que R$ 500 mil é o valor justo de venda do imóvel.
Chamou dois corretores e solicitou avaliações do apartamento, além de consultar as condições segundo as quais trabalhariam a venda do imóvel. Os dois corretores apresentaram a mesma estimativa de preço: R$ 420 mil.
Discordando da cotação dos corretores, José autorizou que ambos divulgassem a disponibilidade de venda do imóvel por R$ 500 mil -valor mínimo para negociação.
José recebeu algumas poucas ofertas de compradores, quase todas envolvendo permuta por carro, terreno, imóvel de menor valor, chácara no interior e por aí vai. Recusou todas elas porque nenhuma atingiu o valor definido e, também, porque as condições de pagamento não geravam uma entrada de caixa suficiente para a aquisição do novo imóvel que pretendia comprar.

OFERTA RECUSADA
Seis meses se passaram e José recebeu, finalmente, uma proposta decente de pagamento à vista no valor de R$ 440 mil. Recusou a oferta certo de que o comprador, encantado com seu lindo apartamento, chegaria no preço exigido.
Maria achou a proposta tentadora, atraída pela possibilidade do pagamento à vista, mas José não se deixou levar e bateu o pé no valor definido em R$ 500 mil. O comprador não elevou o valor da proposta e retirou a oferta anteriormente feita.
Um ano se passou e o apartamento de José continua à venda por R$ 500 mil. Ele acaba de pagar uma contribuição extraordinária do condomínio, que arrecada recursos para corrigir um antigo problema de infiltração.
Hoje, com a calculadora e o orçamento familiar na mão, José está convencido de que a oferta de R$ 440 mil recebida há um ano era melhor do que, naquela época, ele imaginou que fosse.
Somou todas as despesas pagas desde então, refletiu sobre o custo de oportunidade do dinheiro desde que recebeu a oferta, de pelo menos 10%, e concluiu que deveria ter aceitado. Mas agora já foi.

LIÇÃO APRENDIDA
Novos lançamentos imobiliários surgiram no bairro, de imóveis menores, é verdade, porém com outros atributos que as famílias agora valorizam: são apartamentos mais modernos, com mais vagas de garagem e estrutura completa de lazer.
Mais duas unidades, além da sua, estão à venda no prédio de José -e ele sabe que mais ofertas de venda favorecem a situação dos compradores.
A lição aprendida por José é a de que seu apartamento vale o que o mercado está disposto a pagar - e não o que ele acha que vale. Não pretende recusar a próxima proposta, que, tomara, não demore a aparecer.

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.


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