São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2011

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CRÍTICA ECONOMIA

Nobel pensa o caminho das pedras para os retardatários

Para autor, 'atrasados' bem-sucedidos adotaram regras com heterodoxias


ABORDAGEM EXPERIMENTAL FOI TÍPICA DOS "ATRASADOS"

Diego Azubel - 18.mai.2011/EFE
Visitantes nas instalações da 14º edição da feira internacional de tecnologia Chitec, na cidade de Pequim, na China

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

Michael Spence escreveu um livro divertido e uma introdução didática aos problemas do desenvolvimento. O autor é Nobel de Economia (2001), portanto muito bem formado na melhor tradição "ortodoxa".
Mas "Os Desafios do Futuro da Economia" tende a deixar a direita indignada e a esquerda perplexa.
Seu tema geral é pensar a "próxima convergência" (aliás, título original do livro). Isto é, o processo pelo qual 75% da humanidade chegaria a viver em países de renda alta em meados deste século (ante 15%, hoje). Spence reflete sobre os países "retardados" que cresceram rapidamente.
Desde os anos 1950, apenas 13 países cresceram à taxa de ao menos 7% ao ano durante 25 anos (Brasil entre eles). A 7% anuais, o PIB dobra numa década. Como?
Não há fórmula, diz esse professor da Universidade de Nova York. Spence acredita, sim, na teoria padrão do desenvolvimento.
São necessários um alto nível inicial de poupança e de investimento. É preciso que as economias sejam flexíveis ("liberais") para permitir ondas de "destruição criativa".
Trata-se aqui das ondas de inovação empresarial, tecnológica e gerencial que teriam lugar só em economias em que é livre a realocação do capital (dos setores de menor para os de maior rentabilidade); onde há incentivo para o lucro e garantias para a propriedade.
Mas é preciso "ganhar" as gentes para a causa do mercado: dar-lhes saúde, educação, evitar desigualdade, desemprego etc. Enfim, é preciso estabilidade econômica.
Crucial, os retardatários de sucesso expuseram suas empresas à competição internacional e importaram inovação tecnológica, a chave do crescimento.
Até aí, trata-se de dicas de manual. Mas, para Spence, cada país bem-sucedido no crescimento acelerado adotou as regras do "manual" a seu modo e tempo, temperando-as com heterodoxias.
Protecionismos provisórios, políticas industriais, manipulações do câmbio etc., tudo isso pode dar certo se, num momento adequado, a economia for exposta à concorrência internacional e se, sobretudo, não barrar empresas que tragam ao país tecnologias no "estado da arte".
Dos chineses da abertura no final dos anos 1970, Spence diz: "Céticos em relação à teoria e às prescrições de políticas dos países avançados, eles experimentaram e aprenderam".
Como dizia Deng Xiao Ping (o líder das reformas): "[É preciso] atravessar o rio sentindo as pedras".
Essa abordagem pragmática, experimental, foi típica dos "atrasados" que aceleraram seu desenvolvimento.
O em pessoa muito simpático Spence dirigiu faculdades em Harvard e Stanford. Presidiu a Comissão de Crescimento e Desenvolvimento do Banco Mundial (2006-10). Conheceu políticos e intelectuais de vários cantos; tem interesse por ideias diferentes.
Sua pessoa aparece neste livro, que não é de grandes voos intelectuais, mas de grande bom senso e tempero humano no tratamento da economia.

OS DESAFIOS DO FUTURO DA ECONOMIA
AUTOR Michael Spence
EDITORA Campus/Elsevier
QUANTO R$ 65 (272 págs.)
AVALIAÇÃO Bom



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