São Paulo, sábado, 16 de abril de 2011

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Fundições sucumbem às importações

Câmbio e tributos levam setor de base da indústria à perda do mercado interno até para concorrente europeu

Setor ainda enfrenta dificuldades em medir o tamanho da invasão de peças fundidas importadas no Brasil

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

A indústria que molda peças de alumínio, ferro e aço -fornecedora da indústria de bens de consumo e de bens de capital- enfrenta uma das maiores crises de sua história, apesar do crescimento econômico do país.
Criada no Brasil ainda durante o Império, a indústria brasileira de fundição, sétima em produção no mundo, tem perdido a corrida para as importações de produtos acabados.
A queda contínua do dólar tem minado a capacidade da de indústria competir. Além de perder participação externa, o crescimento do mercado interno tem sido abastecido com importações.
Algumas indústrias agonizam. A crise de 2008 quase levou a Cofaz (Cooperativa de Produção de Peças Fundidas em Alumínio) à falência.
Uma das 1.354 fundições brasileiras que sobrevivem, a empresa ainda tenta ficar de pé. De 100 funcionários, tem hoje 25. De R$ 5 milhões de faturamento mensal, hoje alcança só R$ 2,5 milhões. A produção de 550 toneladas de peças por mês é coisa do passado. Com esforço alcança metade.
"Estamos tentando nos recuperar, mas o custo de produção para uma indústria de fundição está ficando inviável", diz Edmundo de Faria Júnior, gerente da empresa.
Com custo de R$ 5.600 a tonelada da liga de alumínio, R$ 1.400 a mais do que a cotação do alumínio primário na bolsa de metais em Londres, a Cofaz está penando para sobreviver.
Com a valorização do real, ficou fácil importar produto pronto. Dentro de carros, máquinas e tantos outros bens de consumo há peças fundidas. O difícil é saber o tamanho da invasão.
"Esse é um dos grandes problemas do setor. O mercado interno está sendo invadido por produtos importados e nem temos como saber a dimensão dessa invasão", afirma Devanir Brichesi, presidente da Abifa (Associação Brasileira de Fundição).
Do setor automotivo surgiu o alerta para a crise da indústria. A expansão das fundições tem ficado mais distante do avanço nas vendas de automóveis.
"A conclusão óbvia é a de que o crescimento desse importante setor está sendo sustentado pelas importações", diz Wilson de Francisco Júnior, sócio da Lepe, empresa que nasceu em 1949.

CONCORRÊNCIA
A novidade, diz, é que o Brasil começa a perder mercado não só para os asiáticos mas, agora, para os europeus. Há dois anos, a Lepe não consegue vencer uma concorrência internacional.
Os custos de produção no Brasil -elevados por tributos e encargos trabalhistas- estão superando os praticados na Europa. "Nosso problema não é tecnológico. É econômico e não só com a China mas também com a Europa", diz o diretor da Lepe.
Luiz Zoltán Tóth, sócio da A. Kalman, conhece bem essa história. A empresa fornecia um suporte de retrovisor de caminhão para uma montadoras inglesa. "Hoje, não só perdi o contrato na Inglaterra como meu ex-cliente de lá tomou meu cliente daqui", diz. Enquanto, o ex-comprador vende o suporte por R$ 90, ele não consegue vender por menos de R$ 120.
As estatísticas mostram o resultado. Em 2006, o setor exportava 710,9 mil toneladas de produtos fundidos. No ano passado, exportou 431 mil toneladas. Não é um setor qualquer. Dele dependem 63,4 mil famílias.


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