São Paulo, sábado, 16 de julho de 2011

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ENTREVISTA JOSÉ ANTONIO FAY

BR Foods promete expansão após perda de marcas

SEM LIMITES PARA CONSTRUIR NOVAS FÁBRICAS, EMPRESA PRETENDE RECOMPOR CAPACIDADE DE PRODUÇÃO NO PAÍS E REAVALIAR SUAS MARCAS

Carlos Cecconello/Folhapress
José Antonio Fay, em entrevista na antiga sede da Perdigão, em São Paulo

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

Apesar de sair 30% menor do julgamento do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a Brasil Foods vai se preparar para brigar, com a mesma força, pelo consumidor.
O órgão antitruste não colocou, no acordo firmado com a empresa aprovado nesta semana, limites para a construção de novas fábricas ou a compra de unidades no país.
Essa flexibilidade abre espaço para a BRF se fortalecer no mercado interno até o prazo final para a adoção das restrições impostas pelo Cade -venda de ativos e suspensão das marcas Batavo e Perdigão em algumas categorias-, o que ocorrerá apenas em 2012.
"Não temos limite para refazer capacidade de produção. E temos algum tempo para preparar isso tudo", afirmou o presidente da BRF, José Antonio Fay.
Em entrevista concedida à Folha na antiga sede da Perdigão na quinta-feira -primeiro dia oficial da BRF-, Fay disse que a empresa já preparava o contra-ataque na Justiça e que "o tempo vai dizer como essa negociação foi acertada e importante".

 

Folha - Em algum momento o senhor achou que perderia essa batalha no Cade?
José Antonio Fay -
Em vários momentos pensei que não haveria acordo e que iríamos para a Justiça. Já estávamos preparando a questão jurídica, era uma realidade.

A opinião pública não aceita bem as grandes fusões. Como defendê-las?
Eu acho que o consumidor, no fim do dia, é o grande beneficiado. Porque se manteve uma rivalidade no mercado. Eu trabalho com consumo há muitos anos. Você só tem sucesso com o consumidor se tiver o produto certo pelo preço certo. É errado achar que o consumidor é um ente econômico que não sabe o que faz, ou que é forçado a fazer algumas coisas. Em alimentos, além de saber o que faz, ele tem a opção de escolher.

O resultado do julgamento gerou críticas de que o Cade teria sido permissivo.
Eu não acho. Veja tudo o que a gente teve de fazer...

E que teria ocorrido, também, ingerência política durante esses 40 dias de negociação.
De jeito nenhum. Eu acho que talvez esse tenha sido o momento em que o Cade foi mais rigoroso com uma empresa. Estamos cedendo ao mercado uma empresa de R$ 1,7 bilhão, é grande.
O Cade foi criativo e aplicou regras que são duras. Permissivo, não. Se tivesse ingerência política, eu não perderia 13% do meu faturamento.

O senhor confirma que foi procurado por Marfrig, JBS e Tyson para negociar os ativos que vão ser vendidos?
Formalmente, ninguém me procurou. Informalmente, muitos me procuraram e também um pessoal de fundos de participação. Mas essa operação vai para o mercado de forma organizada.

Especialistas aguardam uma forte migração da marca Perdigão para a Sadia. Se isso efetivamente ocorrer, como atender a todos os consumidores da BRF, pois a empresa estará com uma capacidade de produção 30% menor?
Não vamos estar. Quando eu suspendo a marca Perdigão em determinadas categorias, esse volume de vendas sai da BRF, mas não o volume de produção.

Mas há uma capacidade de produção de Perdigão que também será vendida.
A capacidade vendida é maior que as marcas vendidas, é verdade. Porque o Cade queria que essa nova empresa tivesse capacidade de abastecer essa demanda por Batavo e Perdigão que vai continuar, mesmo depois que as marcas forem suspensas.

Então como atender a todos os consumidores que hoje compram Sadia e Perdigão e também aumentar exportações?
Esse é o desafio que nós temos. Eu acho que dá para casar tudo isso. Nós temos uma posição bem confortável de caixa para fazer o nosso planejamento de aquisições e vamos receber uma quantidade de dinheiro referente à venda dos ativos. Uma das formas de balancear isso é pegar esse dinheiro e comprar faturamento.

O senhor pode fazer aquisições no Brasil?
Posso, desde que sejam respeitados os meus limites de uso das marcas.

Pode construir fábricas?
Posso. Até porque, do ponto de vista concorrencial, é bom. Vou aumentar a oferta, o que vai pressionar preço. O Cade falou: se amanhã você quiser comprar tudo o que está vendendo, pode comprar. Porque você vai aumentar a oferta, e isso é bom do ponto de vista do consumidor.
Então não temos limites para refazer essa capacidade, e temos algum tempo para preparar tudo isso. Até lá [venda das fábricas], eu posso repor capacidade. Para nós, é indiferente. Eu também vou disputar esse mercado que vai sobrar com os que já existem, como Marfrig, Aurora e marcas regionais. Esse "povo" todo vai estar disputando esse mercado, e nós também.

Então, com esse dinheiro que vocês vão receber, é possível que sejam construídas novas fábricas no Brasil?
Sim, assim como aquisições fora do Brasil -e essa alternativa é a mais fácil para eu repor faturamento. Mas eu também posso me preparar internamente, lançar novos produtos... Eu disse para o meu pessoal de pesquisa e desenvolvimento que agora eu preciso ainda mais deles. Nas categorias em que estamos livres para operar, temos de lançar mais variedades de produtos para recompor o que a gente vai perder.

O foco para aquisições no exterior é o Oriente Médio?
Sim, fundamentalmente América Latina, Oriente Médio. E Ásia e África, pela oportunidade.

Vocês tinham um portfólio muito amplo e atendiam a todas as classes sociais. Como atender a todos os consumidores só com uma marca premium, que é a Sadia?
Mas isso não acontece em todas as categorias. Em salsichas, empanados, hambúrgueres, linguiça e mortadela eu tenho Sadia e Perdigão.

A venda das marcas de combate não deve fazer da Sadia a marca premium da BRF e a Perdigão, a mais popular?
Pretendíamos deixar as marcas próximas. Agora, preciso de uma nova estratégia de marketing. O nosso desafio é reconfigurar as nossas estratégias. O meu departamento de marketing e comercial terá de 15 a 20 dias para dar um direcionamento.

FOLHA.com
Leia a íntegra da entrevista
www.folha.com/me944306


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