São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2010

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ENTREVISTA PAULO SKAF

Cumprir mais um mandato seria uma tendência natural

LÍDER EMPRESARIAL NEGA QUE PERMANÊNCIA NA FIESP REPRESENTE CONTINUÍSMO

Fotos Rodrigo Capote/Folhapress
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf

DE SÃO PAULO

No comando da Fiesp até setembro de 2011, Paulo Skaf diz que a "tendência natural" é disputar mais um mandato à frente da Fiesp e do Ciesp.
Admite, porém, que é "cedo" para discutir sucessão. Depois dos 4,56% de votos para a eleição de governador de São Paulo, Skaf reassumiu o comando das cinco entidades que preside (Fiesp, Ciesp, Sesi-SP, Senai-SP e Instituto Roberto Simonsen).
Juntas, elas têm orçamento de R$ 2,62 bilhões e empregam 16,3 mil funcionários. Questionado sobre a possibilidade de um grupo de empresários, insatisfeitos com a sua atuação no comando da entidade, lançarem chapa para disputar a eleição na Fiesp, o empresário diz que sente "muita unidade na casa". E que, se isso ocorrer, "não teria nada contra qualquer iniciativa".
A seguir, leia trechos da entrevista concedida à Folha na última quarta-feira. (CLAUDIA ROLLI e AGNALDO BRITO)

 


Folha - Uma das principais reclamações dos setores industriais é que as importações de itens manufaturados têm afetado o equilíbrio da balança comercial. Qual a visão e a atuação da Fiesp em relação a esse problema?
Paulo Skaf
- A Fiesp não é contra as importações, mas sim contra práticas desleais de comércio, como "dumping", subfaturamento nas importações e produtos piratas. O que temos visto são importações com valores unitários muito baixos, principalmente da China, o que gera competição desleal.
Já estamos com deficit na balança de manufaturados da ordem de US$ 44 bilhões até agosto deste ano. As exportações de commodities têm saldo positivo de US$ 40 bilhões.
Encaminhamos carta ao ministro Miguel Jorge, na semana passada, pedindo mais agilidade ao governo para que os instrumentos de defesa comercial sejam usados com mais agilidade e eficiência. Não defendemos o protecionismo. Se tem "dumping", tem de sobretaxar. Se tem prática desleal nas importações, tem de impor cotas. [O governo] tem de fazer sem receio, como fazem os outros países. Aqui tem muita cerimônia para adotar essas medidas, leva tempo grande.

Alguns setores chegam a falar em desindustrialização. Existe esse risco?
O PIB deve crescer entre 7% e 8%, e a produção industrial, em torno de 11%. Os indicadores de 2009 foram bem menores, o que torna a base de comparação baixa. Apesar de o setor industrial estar crescendo, é preciso considerar [a desindustrialização] a médio e longo prazo. Se continuarmos sem reformas estruturais, que deem competitividade, desburocratizem e desonerem, e com essa cultura de juros elevados, vamos continuar perdendo competitividade.
Nosso câmbio rouba qualquer competitividade da indústria nacional. Tem de ter um ajuste. O que também ajuda o câmbio é ter juros mais baixos para não atrair capital especulativo e controlar gastos públicos. Esse controle acelera a possibilidade de redução de juros.

Deve haver barreiras para a importação?
Temos de ter ferramentas de defesa comercial e usá-las como outros países fazem. Faltam ao governo duas coisas. Uma é estrutura técnica para analisar indícios de práticas desleais. A segunda é ter vontade política e coragem para tomar medidas com agilidade. Não pode ter receio.

Após a derrota eleitoral para o governo paulista, o sr. ficará no comando da Fiesp?
Meu mandato termina no final de setembro de 2011. Pelo estatuto, tenho direito a mais um mandato. Houve adequação no sistema indústria, com mandato que passou para quatro anos. Estou no primeiro mandato de quatro anos na Fiesp, e no Ciesp também. Essa adequação foi boa, porque não "descasa" as entidades. Ninguém gostou do sabor da desunião de presidências distintas.
Quanto a cumprir mais um mandato, diria que seria tendência natural. Mas depende da vontade de pessoas e da minha própria. Presidir Fiesp, Ciesp, Sesi e Senai me honra muito.
Sinto que há reconhecimento do trabalho. Porque em uma democracia não precisa ter unanimidade, mas, quando você tem 95% [dos votos para comandar a Fiesp], sinto que há quase unanimidade. Pode haver exceções por interesses pontuais ou pessoais ou ainda por algum conflito pontual. Mas diria que tem unanimidade aqui.

O continuísmo na entidade lhe preocupa?
Isso não me preocupa porque no Ciesp é o primeiro mandato e, na Fiesp, nós renovamos, inovamos e transformamos. Aqui é uma renovação permanente. Por isso não há sensação de continuísmo. Mas repito que essa [ficar na Fiesp mais um mandato] é uma decisão que depende de conversas com setores industriais. Tem muita gente que fala até sobre ministério [no próximo governo]. Nunca pensei nisso, não tenho intenção.

O sr recebeu algum convite?
Não recebi. Volto a dizer que não é minha intenção. Minha intenção é ficar aqui [comando da Fiesp].

Há informações de que um pequeno grupo de empresários já articula a formação de uma chapa para disputar o comando da federação na próxima eleição. Qual a sua avaliação?
Quando você se ausenta, ficam muitas dúvidas. E agora, o Skaf volta? Não volta? Será que ele vai para o governo? Ou não? Será que ele será candidato a prefeito? Essas dúvidas podem suscitar algumas fofocas. Mas o que sinto é que aqui há muita unidade. Fui recebido com muito carinho na semana passada. Não sinto nenhuma iniciativa em nenhum setor de pequenas empresas nem de grandes empresas [em lançar chapa]. Sinto justamente o contrário, mas também não teria nada contra qualquer iniciativa.

A tendência, então, é haver chapa única?
Acho que a gente está colocando a carroça na frente dos bois. Não há conversas ainda em relação à sucessão.


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