|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
sociais & cia
Fim de trabalho infantil pede engajamento
Empresários defendem que companhias controlem fornecedores e pressionem por combate à informalidade
Encontro, realizado na Colômbia, discute estímulo a projetos sociais e cuidados
com imagem da marca
ANDRÉ PALHANO
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
As empresas têm um papel
relevante nos esforços da sociedade para a erradicação
do trabalho infantil, que envolve o engajamento de fornecedores, o estímulo a projetos sociais de educação e
inclusão na infância e o alinhamento às políticas públicas relacionadas ao tema.
Essas são algumas das
conclusões do Encontro Internacional Contra o Trabalho Infantil, realizado nos
dias 3 e 4 deste mês em Bogotá, Colômbia, promovido pela Fundação Telefônica.
"O trabalho infantil é a escravidão do nosso século.
Não há como as empresas,
que concentram hoje o poder
econômico, ficarem alheias
ao tema", disse o secretário-geral da OEI (Organização de
Estados Ibero-Americanos
para a Educação, Ciência e
Cultura), Álvaro Marchesi.
No caso da América Latina, região que reúne cerca de
14 milhões de crianças que
trabalham, das quais mais de
9 milhões em condições perigosas -os dados da OIT (Organização Internacional do
Trabalho) são considerados
conservadores-, o assunto é
especialmente complexo.
"Em diversos setores produtivos ainda não se conseguiu enxergar e compreender a gravidade do problema", defende Lucas Utrera,
pesquisador de Responsabilidade Social Corporativa na
Uade (Universidade Argentina da Empresa).
Segundo ele, o que ocorre
é justamente o contrário.
"Em muitas regiões da
América Latina, o trabalho
das crianças está legitimado,
constituindo um componente importante dos processos
produtivos atuais", afirma
o especialista.
REPUTAÇÃO DA MARCA
Para as empresas, um dos
maiores riscos do trabalho
infantil está associado à reputação da marca. Grandes
grupos empresariais, como
Nike e Apple, já viveram o pesadelo de enfrentar escândalos na mídia.
Para os especialistas reunidos no debate em Bogotá,
combater o trabalho infantil
representa também uma
preocupação econômica. Estima-se que quase a totalidade das crianças que trabalham na região atuem na economia informal.
"Ao combater o trabalho
infantil, as empresas estão
combatendo a informalidade
da economia, segmento em
que há empresários que não
se preocupam com questões
como reputação ou competitividade por meio de instrumentos legítimos", aponta
Guillermo Dema, especialista para o Trabalho Infantil e
Emprego Juvenil para as
Américas da OIT.
Há também a questão da
desigualdade de renda e a limitação de geração de riqueza no país. Estudo da Esalq/
USP revela que pessoas de 30
a 65 anos que trabalharam
antes dos 16 anos no Brasil
recebem, em média, 7% a
menos do que as demais.
"Ao diminuir a geração de
renda, o trabalho infantil
acaba sendo também um fator limitante do próprio crescimento econômico", explica
o pesquisador Marcelo Justos
dos Santos, da Esalq/USP,
um dos autores do estudo.
O jornalista ANDRÉ PALHANO viajou a
convite da Fundação Telefônica
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire Próximo Texto: Definição de trabalho infantil Índice | Comunicar Erros
|