São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

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Importações de papel crescem, e setor acusa a China de dumping

Indústria atribui o aumento de 40% nos importados a subsídio à produção chinesa e à fraude

Papel para uso editorial, isento de imposto, seria desviado para outra finalidade após entrada no país, diz associação

Qilai Shen - 9.abr.08/Bloomberg News
Fábrica de papel na China; produtores brasileiros tentam reunir dados que confirmem prática irregular do país asiático

AGNALDO BRITO
TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

A importação de papel pelo Brasil deverá superar 1,5 milhão de toneladas em 2010. O número, caso seja confirmado com os dados deste mês, deve superar 40% de crescimento sobre a importação de 2009.
O assunto mobilizou a Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel). Elizabeth de Carvalhaes, presidente da organização, diz que o setor "sofreu enormemente" com as importações.
Ontem, a executiva disse que pretende pressionar o governo federal para resolver o problema das importações em "curto prazo". "Não se pode esperar. É algo para se resolver no início de 2011."
Só as importações de papel de imprimir e escrever (como o sulfite) alcançaram 670 mil toneladas até novembro -aumento de 47,3% na comparação com 2009. Entre os fabricantes nacionais estão Suzano, Fibria e IP.
Além do problema cambial (que torna o produto estrangeiro mais barato que o nacional), a Bracelpa aponta dois problemas para o forte aumento das importações de papel em 2010: o desvio do papel imune (desonerado por lei para fins exclusivamente editoriais) e o subsídio concedido por países asiáticos a produtores locais.
"O dumping faz com que o crescimento do mercado doméstico não exista para nós", disse Jean-Michel Ribieras, presidente da IP, fabricante do papel Chamex.

FISCALIZAÇÃO
A Bracelpa vai cobrar a fiscalização das gráficas que anunciam cotas para aquisição do papel imune (para uso editorial e com renúncia fiscal) e utilizam esse material para outros fins. Um recadastramento nacional foi feito em 2010, mas há dúvida sobre a eficácia da medida.
A entidade aponta as importações como principal beneficiária dessa fraude, principalmente o papel chinês.
Quanto aos subsídios ofertados pelos governos asiáticos ao papel produzido na China ou na Indonésia, a Bracelpa admite que ainda não tem provas para sustentar um pedido ao governo para uma ação antidumping contra os concorrentes.
Elizabeth fala que os preços do papel importado "podem indicar" subsídio e que a associação montou um grupo para avaliar a questão.
Apesar de preferir uma solução "amigável", a entidade não descarta uma disputa na OMC (Organização Mundial do Comércio).
O fato é que desde outubro, quando os EUA anunciaram medidas antidumping contra o papel chinês, a Bracelpa mostra a intenção de pedir o mesmo ao governo, sem tê-lo feito até agora.
Mas a questão pode envolver outros aspectos. O Brasil é um grande comprador de papel chinês, mas é também um grande vendedor de celulose para a China, abastecendo 47% das papeleiras.
Uma ação antidumping contra o papel chinês no Brasil abriria brecha para um revide da China contra a celulose brasileira? Isso é apenas conjectura, mas uma guerra nesses termos seria muito prejudicial ao Brasil.
Parte da recuperação das receitas do setor papeleiro brasileiro veio exatamente da recuperação de preços promovida pela forte demanda chinesa. O Brasil vai produzir 14 milhões de toneladas de celulose neste ano, 5,1% a mais que em 2009.


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