São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2011

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Dívida em dólar sobe e preocupa governo

Endividamento privado em moeda estrangeira supera o nível de 2008, quando a crise afetou Sadia, Aracruz e Votorantim

Para analistas, o fato de serem operações de curto prazo indica que muitos dos recursos são usados para especular

EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA

A dívida em moeda estrangeira de empresas e bancos já supera o nível anterior à crise de 2008. Com isso, tornou-se um dos alvos do governo na tentativa de segurar a inflação e a queda do dólar.
Dados do Banco Central mostram que a dívida externa do setor privado chegou a US$ 111 bilhões em setembro, último dado disponível. Há três anos, às vésperas da crise, eram US$ 97 bilhões.
Esse nível de endividamento externo só havia sido alcançado pelo setor privado entre 1998 e 2000, quando chegou a US$ 117 bilhões, e é quase o dobro do verificado há cinco anos.
Outro fator de risco é o aumento na dívida com vencimento em até 12 meses, que dobrou desde 2009.
O fato de serem operações de curto prazo reforça a avaliação, segundo analistas do mercado de câmbio, de que muitas operações não estão ligadas a recursos para investimento, mas à especulação com a queda do dólar.
Na crise de 2008, várias empresas que especulavam com o câmbio, entre elas Sadia, Aracruz e Votorantim, tiveram prejuízos e foram socorridas pelo governo.
O BC já manifestou preocupação com o risco de uma nova virada nas cotações. Em janeiro, anunciou medidas para diminuir as dívidas dos bancos no mercado de câmbio no Brasil. Agora, o governo estuda novas ações para conter a queda do dólar e está de olho no aumento das dívidas no exterior.

FECHAR PORTAS
Além de diminuir o risco cambial das empresas, essas restrições podem fechar uma das principais portas de entrada de recursos no país.
Outro problema é que parte desse dinheiro está sendo trazida pelos bancos, cuja dívida externa cresceu 57% nos primeiros nove meses de 2010, para elevar sua capacidade de empréstimos. Isso reduz a eficácias das medidas para conter a alta do crédito e esfriar a economia.
Sidnei Nehme, da corretora NGO, afirma que a extensão da cobrança do IOF de 5,38%, que hoje se aplica só a empréstimos de até 90 dias, pode desestimular o uso desses empréstimos para lucrar com a diferença de juros dentro e fora do país.
Mario Battistel, da corretora Fair, diz, no entanto, que não há como taxar o dinheiro destinado à especulação sem prejudicar a vinda de recursos para o setor produtivo.
Em 2010, o valor dos novos empréstimos obtidos no exterior superou em quase 150% o pagamento de dívidas. Empresas e bancos brasileiros pagaram US$ 14 bilhões, mas contraíram US$ 34 bilhões em novas operações de crédito fora do país.
As dívidas de curto prazo no exterior somavam US$ 62 bilhões em janeiro, 24% da dívida externa do país, o dobro da participação de 2006.


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