São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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Aldeia S.A.

Etnias de Mato Grosso garantem renda com a negociação de castanha e látex até com múlti francesa

Rodrigo Vargas/ Folhapress
Egídio Bahi, da etnia rikbatsa, mostra castanhas em Mato Grosso

RODRIGO VARGAS
ENVIADO ESPECIAL A JUÍNA

Mauro Adopowi diz que seu negócio é influenciado pelas flutuações do dólar. Para Egídio Bahi, a chave do sucesso é agregar valor à produção local. Paulo Skirip sonha com uma assessoria contábil que reduza a burocracia no momento da venda.
Todos são índios e vivem em aldeias da etnias rikbatsa e zoró, no noroeste de Mato Grosso. O palavreado empresarial vem de quase oito anos de uma experiência que propõe gerar renda nas aldeias e proteger vastas e cobiçadas áreas de floresta na região.
Somente no ano passado, as duas etnias coletaram 130 toneladas de castanha-do-brasil e extraíram mais de 10 toneladas de látex de seus seringais e castanhais nativos.
Parte da produção é comercializada de forma independente pelas associações de cada etnia, mas uma grande fatia é destinada, via acordos de cooperação, à multinacional francesa Michelin (látex) e à Ouro Verde, uma subsidiária do grupo brasileiro Orsa (castanha-do-brasil).
Representantes das duas empresas estiveram na área dos rikbatsas na semana passada para discutir preço e falar de negócios com um total de oito etnias da região, além de grupos de pequenos agricultores e seringueiros de uma reserva extrativista.

CONTATO
O contato entre os grupos foi mediado pelo projeto Pacto das Águas, financiado pela Petrobras Ambiental. Em pauta, temas tradicionais do chamado setor produtivo: dificuldades de escoamento, mecanismos de garantia de preço e alternativas de financiamento da produção.
Os rikbatsas, primeiros a aderir ao programa, ainda em 2003, são também os mais adiantados. Em suas terras, há 13 galpões de armazenagem para receber o resultado das coletas feitas por índios de 35 aldeias, além de uma máquina para acelerar o processo de secagem.
"No futuro, pensamos em instalar uma minifábrica, para que nossa castanha saia daqui já embalada e com mais valor", afirma Egídio Bahi, 34, coordenador da extração de castanha na aldeia Barranco Vermelho.
A valorização já ocorre. Antes do projeto, segundo Bahi, o quilo de castanha era vendido a atravessadores por menos de R$ 0,50. "Para a próxima safra, esperamos vender a R$ 2,20 o quilo", diz.
"Se o dólar sobe, o preço dos nossos produtos sobe junto", afirma o vice-cacique da aldeia zoró Pawanewã, Mauro Adopowi, 38.

CERTIFICAÇÃO
Paulo Skirip, 40, presidente da Asirik (Associação do Povo Indígena Rikbatsa), diz que o objetivo é certificar a castanha produzida pela etnia. "Para isso, porém, precisaremos de assessorias técnica, jurídica e contábil", diz.
O coordenador do projeto, Plácido Costa, diz que é um "aprendizado de mão dupla". "Os primeiros técnicos que a Michelin enviou para as áreas indígenas, por exemplo, chegaram com a ideia de uma produção ao estilo industrial, cinco dias por semana, oito horas por dia. Mas logo viram que a realidade dos povos não era essa."
Segundo Caio César Francheschi, gerente regional de compras de borracha da Michelin, a participação da empresa no programa ainda é basicamente uma ação "institucional", em razão dos volumes negociados.
"No futuro, poderemos usar a borracha extraída aqui em produtos diferenciados."
Já o diretor-executivo da Ouro Verde Amazônia, Luiz Fernando da Fonseca, diz que a castanha produzida pelos índios já representa mais de 10% do suprimento da unidade industrial instalada em Alta Floresta (MT). "É um suprimento estratégico e de excelente qualidade."


O jornalista RODRIGO VARGAS viajou a Juína a convite do projeto Pacto das Águas


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