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ANÁLISE AGRICULTURA
Produtividade agrícola pode garantir a segurança alimentar
GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A alta dos preços dos alimentos nos últimos anos foi
bastante preocupante, pois
perto de 1 bilhão de pessoas
(algo como pouco mais de
cinco vezes a população brasileira) ainda defrontam-se
com fome e subnutrição.
O problema vinha se atenuando desde os anos 1970,
em grande parte devido a
avanços na produtividade
com expressiva redução de
preços.
Entretanto, instituições
importantes como o Banco
Mundial detectaram desaceleração na produtividade da
terra ("yield") nos anos
2000, o que poderia, ao lado
da forte expansão da demanda, explicar a elevação de
preços e levar a novas crises
quando a economia mundial
voltar a crescer.
Keith O. Fuglie, do Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (Usda), avaliou a tendência da produtividade da agropecuária em
escala mundial.
Em vez de focar na produtividade da terra ou do trabalho, ele mediu a Produtividade Total dos Fatores (PTF),
evitando interpretações incorretas decorrentes do uso
de medidas parciais.
Por exemplo, a produtividade do trabalho é influenciada por investimentos em
mecanização; a da terra, pelos gastos com fertilizantes e
corretivos.
É possível aumentar a produção de duas maneiras.
Uma delas envolve o uso
maior dos recursos produtivos disponíveis, gastando-se
mais, evidentemente.
A outra se dá por mudança
tecnológica, que disponibiliza insumos e máquinas de
melhor qualidade, mão de
obra mais qualificada e melhores práticas administrativas, sem necessariamente levar a maiores gastos.
A PTF compara o crescimento da produção ao do
uso de terra, trabalho, capital
e insumos. Se a produção
crescer mais que o emprego
desses recursos, a PTF aumenta e reduções de preços
são factíveis.
O estudo mostra que a PTF
nos últimos 20 anos (1990 em
diante), cresceu duas vezes
mais rapidamente (1,6% ao
ano) do que nas duas décadas anteriores (1970 a 1990).
Ela responde por 70% do
crescimento de pouco mais
de 2% ao ano da produção.
O que vem se desacelerando são os recursos aplicados
na produção agrícola, cuja
taxa de crescimento caiu
60% entre os dois períodos.
Na América do Norte e na
Europa, desde 1980 houve
redução generalizada nos recursos aplicados, com leve
retração na produção.
Profunda queda de recursos houve também na antiga
União Soviética após o desmantelamento do bloco.
O Brasil apresentou o melhor desempenho em termos
de PTF, que, desde 1980, vem
crescendo a mais de 3% ao
ano, o que explica 83% do
aumento de produção.
A liderança brasileira, porém, não é isolada: a China
segue no seu calcanhar, graças a reformas institucionais
e a mudanças tecnológicas.
O investimento na agricultura chinesa vem crescendo
tanto quanto ou mais rapidamente do que no Brasil.
Na África, o investimento e
a PTF vêm crescendo, mas
não o bastante para garantir
segurança alimentar.
O crescimento futuro da
produção deverá proceder da
América Latina e da Ásia,
que ainda investem no setor
agrícola e mantêm sistemas
eficientes de pesquisa e extensão. Espera-se que haja
maior cooperação entre elas
e a África.
Da parte dos produtores, a
lição de casa vem sendo feita.
Salvo por problemas climáticos, novas crises de commodities poderão ser evitadas se
os governos não deixarem
que a demanda dispare.
GERALDO BARROS é professor titular da
USP/Esalq e coordenador científico do
Cepea/Esalq/USP.
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