São Paulo, sábado, 17 de julho de 2010

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ROBERTO RODRIGUES

Governo e Copa


Estamos às vésperas de escolher o novo técnico; boa hora de eleger aquele que escale o melhor time

VÁRIOS DOS mais importantes líderes brasileiros gostam de usar o futebol como fonte de inspiração para explicar suas políticas ou ações. E isso faz todo sentido, especialmente quando a comparação é feita por governantes. Afinal, um governo deve atuar como uma equipe, com estratégia e objetivos definidos, de forma que cada órgão do Executivo cumpra um papel determinado pelo técnico, que é o chefe do governo.
Atuando orquestradamente, uma equipe, mesmo não tendo estrelas excepcionais, ganha qualquer torneio, desde que todos se comprometam com o resultado coletivo, sem buscar vantagens ou privilégios para este ou aquele "atleta".
Depois que determinado torneio é perdido, fica fácil explicar as razões da derrota: faltou meio-de-campo, a bola não chegou ao ataque, o time não tinha equilíbrio emocional, jogava muito burocraticamente, não tinha criatividade, faltou preparo físico, os atacantes não se movimentavam, enfim, sempre há explicações óbvias e cada brasileiro é um técnico bem capacitado para expor a sua visão.
Mas aí é tarde, outro time levanta o título mesmo sem nenhuma estrela exuberante, mas apenas tendo determinação, esquema tático, visão e espírito de equipe. E técnico bom...
Um governo também deve atuar assim. A defesa precisa ter um goleiro eficiente para impedir que a inflação entre na nossa meta, e o Banco Central deve ser um excelente guarda-valas. Os beques da Fazenda, do Planejamento, da AGU têm de ser firmes, incorruptíveis, vigorosos; e não podem cometer pênaltis ou faltas, como juros altos e impostos insuportáveis. Isso breca o time todo.
Mas o meio-de-campo é fundamental: garantida a defesa, é preciso levar a bola para o ataque, para a frente. E esse é um papel essencial no futebol: sem meio-de-campo criativo, ágil, veloz, que conheça o adversário e se movimente sempre de forma articulada, não tem gol.
Também no governo é assim, e os craques do meio-de-campo são a Casa Civil, o Itamaraty, a Ciência e Tecnologia, o Meio Ambiente, os bancos (BNDES, BB, Caixa Econômica, BNB), os Transportes, entre outros. São eles que preparam os lances, organizam as ações, põem a bola no chão e armam o ataque.
Os atacantes são aqueles que se mobilizam na frente, em direção ao gol, único jeito de conseguir a vitória. Sem o gol, o time pode jogar bonito, pode segurar a inflação, pode planejar o PAC, pode fazer mil projetos, mas, sem o gol, não tem troféu.
E o gol é a geração de empregos, de renda, é o desenvolvimento harmonioso sustentável, é o progresso da nação, com exportações crescentes, investimentos produtivos.
Eis os atacantes: Indústria e Comercio, Agricultura, Petrobrás, Minas e Energia, todos importantes "players" que levam a bola até o centroavante, para este marcar e garantir a vitória ao time.
E quem é o centroavante? Ah, eis aí a peça essencial, que o técnico precisa escalar, mas não precisa instruir: ele sabe qual é o seu papel.
É o setor privado. Quem faz o gol é o setor privado. Quem recebe a bola da inflação controlada, da infraestrutura moderna, da tecnologia contemporânea, do crédito adequado, e sobretudo, da estratégia bem definida, são os trabalhadores e os empreendedores, os construtores da vitória. Quem produz com eficiência e competitividade é o setor privado.
O resto do time, para ser campeão e sair bem na foto, leva a bola até ele. Claro que o centroavante precisa ter musculatura forte, perfeita noção do campo, tem de saber que vai levar pontapé do adversário, e também fogo amigo, precisa se organizar, driblar a defesa inimiga, chutar de qualquer ângulo, fazer o gol.
Um time assim é imbatível, mas não se ganha campeonato com a fanfarronice de Maradona nem com a burocracia de Dunga.
Temos excelentes centroavantes. Mas ainda nos falta a estratégia. Estamos às vésperas de escolher o novo técnico. Hora boa de eleger aquele que escale o melhor time e nos ofereça a melhor visão do jogo, para felicidade da torcida -o povo brasileiro.


ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp -Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br

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