São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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Reajustes salariais superam a inflação

Mercado aquecido mantém vantagem de trabalhadores nas negociações apesar de desaceleração econômica

Aumento real no primeiro semestre foi de 1,86%, em média, contra 1,53% no mesmo período do ano passado

ÉRICA FRAGA
MARIANA CARNEIRO
MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

O aquecimento do mercado de trabalho tem forçado empresas a ceder às pressões de trabalhadores por aumentos salariais acima da inflação, apesar de sinais de que a economia começa a esfriar.
Levantamento feito pela Folha com 88 sindicatos com data-base nos primeiros seis meses do ano revela que os reajustes reais (acima da inflação) superam os fortes aumentos do ano passado.
Em média, o aumento real no primeiro semestre foi de 1,86%, ante 1,53% no mesmo período de 2010.
Neste ano, todos os sindicatos ouvidos conseguiram, pelo menos, repor a inflação. Situação diferente da registrada em 2010, quando seis categorias amargaram aumento abaixo da inflação.
Desde o fim do ano passado, o governo tem adotado medidas para reduzir o crescimento econômico e conter a alta de preços. Sinais de desaquecimento já aparecem, por exemplo, na expansão mais moderada do crédito.
Mas, segundo especialistas, a atividade ainda cresce num ritmo que gera novas vagas de trabalho.
"Ameaçamos fazer greve, mas não foi preciso. As empresas estão vendendo muito e não querem parar a fábrica", afirma Daniel Demétrio, sindicalista do setor de borracha de São Paulo.
A categoria obteve aumento de 2,56% acima da inflação no mês passado. Em 2010, o reajuste foi de 1%.

PREOCUPAÇÃO
O Banco Central se preocupa: "Em ambiente de demanda aquecida, esses aumentos salariais tendem a ser repassados aos preços ao consumidor", diz o mais recente relatório de inflação.
Os reajustes reais, que tinham sido fortes no primeiro trimestre, chegaram a perder fôlego em abril, mas voltaram a acelerar em maio.
Nos últimos dois meses, 38 sindicatos que fecharam negociações tiveram, em média, ganho real de 1,45%, acima do 1,25% de 2010.
Segundo o economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, isso deve se repetir no segundo semestre, pois o mercado de trabalho está muito aquecido.
Já o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, diz que a demanda por mão de obra vai esfriar: "O mercado de trabalho sente os efeitos da desaceleração com atraso".
À parte das discussões dos economistas, Philipe do Nascimento, assistente-geral na construção de um prédio em São Paulo, não está satisfeito com a alta de 10% do seu salário, para R$ 910 em maio.
"O salário sobe, mas o aluguel aumenta, o supermercado fica mais caro. No fim, fica empatado", afirma.

Colaborou AIANA FREITAS, de São Paulo


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