São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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Para Abilio, pressa do Casino minou fusão

Convocado para reunião em dois dias, empresário teve pouco tempo para defender tese da união com Carrefour

Derrota no conselho selou o afastamento do BNDES, que exigia um acordo para entrar com até R$ 4,5 bi no negócio

Ana Paula Paiva - 6.jul.11/ "Valor"
O empresário Abilio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

O empresário Abilio Diniz, que travou uma guerra pública com o grupo francês Casino, foi despreparado (e "desarmado", segundo relatos), para a reunião do conselho que enterrou sua ambição de unir ao Carrefour o supermercado fundado pelo pai.
Abílio foi chamado para discutir a fusão no domingo passado, menos de duas semanas após revelar a negociação. A reunião seria na terça-feira, apenas 48 horas depois, em Paris.
Tudo foi tão rápido que o empresário nem teve tempo de preparar o jato da família (que estava emprestado ao filho) e teve de pegar um voo de carreira ""ele viajou na primeira classe.
Do alto de seus 74 anos (54 deles no varejo), Abilio viu no chamado do Casino a oportunidade que esperava para defender o que acreditava ser uma proposta irrecusável aos franceses, que o acusavam de "expropriação" ""o empresário vendeu o controle há seis anos ao Casino e a fusão com o Carrefour representava o surgimento de uma empresa com o controle pulverizado.

BUSCA DE SINTONIA
Confiante na sua proposta, Abilio estendeu bandeira branca. Escreveu a Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, se desculpando pelos últimos acontecimentos, dizendo que chegava "desarmado", para discutir algo de interesse dos dois.
Dispôs-se ainda a falar a sós com Naouri. A intenção era afinar a sintonia.
O presidente do Casino respondeu que a confiança fora quebrada, mas que os dois poderiam conversar.
Jamais imaginaria, segundo relatos, que seria uma reunião decisiva, em que o Casino traria seis estudos para bombardear a proposta.
Muito menos que o caso seguisse para votação e que a derrota prepararia terreno, horas depois, para o BNDES "desembarcar" do negócio ""o banco se reunira com o Casino cinco dias antes no Rio.
O empresário se queixa de que não teve tempo na reunião para defender sua proposta, rebater os estudos contrários e mostrar as análises brasileiras de viabilidade.
Foi sumariamente derrotado pelos estudos de Santander, Goldman Sachs, Rothschild, Roland Berger, Messier-Maris e Merrill Lynch ""o pessoal de Abilio retruca dizendo que os analistas independentes desses mesmos bancos viram potencial de ganho e recomendaram a fusão.
A expectativa de Abilio era que a fusão fosse votada no fim do mês ""tempo bastante para acalmar ânimos, derreter resistências e permitir decisão menos apaixonada.
O conselho do Casino só tinha reunião prevista para o dia 28, pouco antes do veredito da Wilkes, holding que representa a aliança no comando do Pão de Açúcar, marcada para 2 de agosto.
Seria a segunda reunião em seis anos de história da Wilkes, que só fora convocada antes para discutir a compra das Casas Bahia.
Após a reunião do conselho, o empresário Jean-Charles recebeu Abilio, no primeiro encontro desde o início da crise societária. Uma "conversa de surdos", que durou 40 minutos, segundo relatos. Ninguém se entendeu.


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