São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Números otimistas, política difícil


Governo federal pode dobrar investimento em quatro anos, mesmo aumentando valor do salário mínimo etc.


A EMPRESA de pesquisa econômica do grupo que edita a revista "The Economist" (EIU) acredita agora que o Brasil crescerá 7,8% neste ano. Anunciaram ontem a revisão da estimativa. Os economistas do Itaú Unibanco acreditam em 7,6%.
O que vem aqui ao caso, porém, não são os decimais das previsões do PIBão, mas as despesas do governo. Segundo estimativa do Itaú Unibanco também divulgada ontem, o crescimento das despesas do governo neste ano deve ser inferior ao da economia e da arrecadação federal: 6,4% ante 9,4%. As despesas vão crescer até menos que o PIB.
As receitas se recuperam do tombo do ano passado, e as despesas perdem velocidade em relação a um ano de gasto explosivo, em parte devido a medidas anticrise. Além do mais, o crescimento de 7,5% a 8% do PIB neste ano é extraordinário, recuperação sobre a pequena recessão de 2009. Na média dos anos entre 2004 e 2009, as despesas federais cresceram no ritmo médio de 8,7% ao ano. Nesse período, o PIB cresceu, em média, 4% ao ano.
Mais interessante no relatório do Itaú Unibanco é a estimativa de que, entre 2010 e 2013, a receita federal não vai responder ao crescimento do PIB como o fez entre 2004 e 2008. Isto é, a variação positiva do aumento da receita será relativamente menor em relação à variação do PIB. No jargão, a elasticidade receita-PIB vai diminuir de 2 para 1,5. Além do mais, o próprio crescimento do PIB seria menor, algo em torno de 4,5% ao ano. E daí?
Daí que vai ser necessário um aperto sério na despesa se o governo quiser contribuir com o aumento da taxa de investimento "produtivo" na economia sem o risco de ajudar a estourar as contas externas.
Na estimativa neutra, nem otimista nem pessimista, supõe-se que o gasto público cresça no total mais ou menos na velocidade do PIB (isto é, afora investimentos, não aumenta em relação ao PIB, mas cresce em termos absolutos). Que os reajustes reais do salário mínimo seguirão as normas já contratadas, de metade do crescimento do PIB registrado há dois anos. Que o número de pedidos de aposentadoria cresça como de costume. O superavit primário seria de 2,8% do PIB em 2009 e de 2,4% de 2012 em diante.
Nesse caso, o investimento poderia chegar a 2% do PIB por volta de 2013, o dobro do registrado em 2008. Note-se que 1% do PIB equivale hoje a R$ 350 bilhões.
Parece animador. Ou, pelo menos, na ponta do lápis parece uma trajetória possível. Mas relembre-se o início deste texto: durante os anos Lula, afora o por vários motivos desconsiderável 2003, a despesa do governo cresceu no dobro da velocidade da produção da economia. O problema maior será o da desaceleração da vontade política de gastar.

POBREZA AMERICANA
Há mais americanos pobres. A proporção de famílias vivendo abaixo da linha de pobreza aumentou de 13,2% em 2008 para 14,2% em 2009, segundo dados do Censo deles. Qual a linha de pobreza? Renda anual de US$ 21.954 para uma família de quatro pessoas.
Dá uns US$ 457 per capita, por mês. Uns R$ 782 por mês. A renda domiciliar per capita de 70% a 80% dos brasileiros é inferior à linha de pobreza americana. Para padrões americanos, cerca de 75% dos brasileiros são pobres.

vinit@uol.com.br


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