São Paulo, sábado, 17 de setembro de 2011

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Brasil se preocupa mais com inflação, diz analista do HSBC

Philip Poole, diretor global de investimentos do banco, diz que memória inflacionária ainda é forte entre brasileiros

Na opinião de Poole, os preços de commodities deverão permanecer em um patamar elevado por bastante tempo


Letícia Moreira/Folhapress
Philip Poole, diretor de investimentos do HSBC, em São Paulo

DE SÃO PAULO

Philip Poole, diretor global de investimentos da HSBC Global Asset Management, visita o Brasil a trabalho desde a década de 90. Para ele, não existe sociedade mais preocupada com a inflação do que a brasileira.
"No Brasil, as pessoas conversam sobre futebol e sobre a reunião do Copom", disse.
Segundo ele, essa preocupação pode alimentar expectativas de reajustes de preços.
Ainda na opinião de Poole, os preços de commodities permanecerão em um patamar elevado no futuro.

 

Folha - Quais são os riscos associados à recente mudança de política monetária no Brasil?
Philip Poole -
Acho que a principal questão é como os brasileiros tendem a reagir a isso porque ainda existe muita indexação no país. O processo de desinflação no Brasil não foi tão efetivo como em outros países da América Latina. É por isso que o país precisa de uma taxa de juros estrutural mais alta para manter a inflação baixa.
Acho que a questão então é como os brasileiros vão reagir se acharem que o Banco Central não está mais combatendo a inflação, mas incentivando o crescimento.

O senhor acha que os brasileiros se dão conta disso, da importância da política monetária, de como opera a dinâmica da inflação?
Os brasileiros, para mim, são mais focados em política monetária do que provavelmente qualquer outra sociedade no mundo. Acho que o nível de discussão a respeito de política monetária no Brasil é mais elevado e atinge um grupo maior de pessoas do que vejo em outros países.
No Reino Unido, as pessoas não conversam sobre a reunião do comitê de política monetária (MPC). Elas conversam sobre tempo e futebol. No Brasil, eles conversam sobre futebol e sobre a reunião do Copom. Acho que isso é consequência do período de hiperinflação que não está tão distante no passado.
E o risco associado a isso são as expectativas, o que pode levar as pessoas a mudarem seu comportamento. É claro que a inflação afeta comportamentos, afeta os consumidores e produtores em termos do cálculo dos seus investimentos, do seu horizonte de investimentos, sua poupança.
Para mim, o risco é que a inflação se mantenha alta, se torne ainda mais alta porque a economia ainda está forte e porque a política monetária esta sendo afrouxada.

O que devemos esperar da crise nos países desenvolvidos?
Eventos no estilo da quebra do Lehman Brothers podem vir da Europa, por causa dos riscos associados com os países maiores que estão lutando contra contágio, como Espanha e Itália. E há os riscos substanciais do setor bancário que tem exposição às dívidas desses países.
Parte do problema é que os dados econômicos têm decepcionado porque as expectativas ainda estão muito altas. Os dados em si não são bons nem ruins. Só são em relação ao que as pessoas esperam. Acho que o mundo precisa se ajustar a essa realidade de que as taxas de crescimento serão diferentes. Há divergência entre os países desenvolvidos e emergentes.
Temos de aceitar que o mundo mudou, que o crescimento vai ser baixo e que o desemprego se manterá alto nos países desenvolvidos.

O quão sustentável é a história das commodities com preços em patamares elevados?
Acho que isso também é parte da história de que o mundo mudou. Há dez anos, a demanda excedente vinha dos EUA, da Europa ocidental e do Japão. Agora, vem da China, Índia, os países emergentes mais populosos e que crescem rapidamente.
Para mim, a recente queda nos preços está mais relacionada com um movimento temporário de venda por parte de investidores do que com uma reversão da mudança estrutural.
Se você olha o nível de consumo per capita de qualquer commodity em países como China e Indonésia ainda é muito baixo, e não apenas em comparação com países desenvolvidos, mas também em relação a outros emergentes. Conforme esses países continuem crescendo, esse consumo vai crescer ainda mais. (ÉRICA FRAGA)


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