São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

FINANÇAS PESSOAIS

MARCIA DESSEN - marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Ganho em fundo de capital protegido exige 'acertar na mosca'

Os Fundos de Investimento Capital Protegido estão inovando cada vez mais. Uma engenharia financeira muito criativa permite que seus administradores prometam ao investidor ganhar se o mercado subir, mas não perder se o mercado cair. Não pense que a instituição financeira administradora do fundo fica com o prejuízo quando o cenário ruim acontece.
O produto é engenhoso e tem atraído investidores que querem ganhar mais, sem abrir mão da segurança. Será que vale a pena investir em um fundo com esse objetivo de investimento? Vamos refletir a respeito e tirar algumas conclusões.
Trata-se de um fundo fechado, com vencimento predeterminado, que oferece ao cotista uma das duas alternativas: se a Bolsa cair, ele recebe seu capital de volta; se a Bolsa subir, ele recebe parte da valorização do índice, de acordo com as condições estabelecidas pelo fundo.
A princípio, receber o dinheiro de volta caso haja desvalorização no índice da Bolsa parece uma boa notícia, pois não existe perda visível do capital.
Entretanto, ao optar pela segurança, esse investidor está abrindo mão da rentabilidade que receberia se optasse por investimento tradicional de renda fixa -a variação da taxa DI, por exemplo.
As primeiras versões desse tipo de fundo eram oferecidas pelo prazo de 63 dias, representando uma "perda" relativamente pequena, referente ao custo de oportunidade de não ganhar a taxa de juros do período.
O mercado inovou e criou versões do produto com duas diferenças importantes em relação às anteriores: a) prazo de vencimento bem mais longo, na faixa de 12 a 24 meses, implicando custo de oportunidade relevante; e b) 100% da valorização do índice, desde que o índice da Bolsa não suba mais do que determinado nível.

EXEMPLO
Vamos analisar um exemplo hipotético de um Fundo de Investimento Capital Protegido com os seguintes parâmetros: valor mínimo para aplicação de R$ 20 mil; resgate somente no vencimento do fundo, em 18 meses; taxa de juros de 12% ao ano, equivalente a 18,5% no período de 18 meses (esse será o custo de oportunidade do investidor); limite de alta estabelecido pelo fundo: 35%; taxa prefixada caso a variação do Ibovespa seja superior a 35%: 15% (ver quadro abaixo).
Vamos nos deslocar no tempo e simular três cenários possíveis em 18 meses. Cenário 1: o Ibovespa cai 8,3%. O investidor recebe seu capital de volta e abre mão da rentabilidade de 18,5% que receberia caso tivesse feito uma aplicação em CDB, fundo DI ou Tesouro Direto, por exemplo (a perda, nesse caso, refere-se ao custo de oportunidade do investidor).
Cenários 2 e 3: variação positiva do Ibovespa entre 0,01% e 34,9%, inferior ao limite estabelecido pelo fundo (35% no exemplo). O cotista recebe 100% do Ibovespa.
Cenário 4: variação positiva do Ibovespa de 48%, superior ao limite de 35% estabelecido pelo fundo. O cotista recebe a taxa prefixada (15% no exemplo).
Toda a história contada até aqui se refere ao risco de mercado, ou seja, da flutuação de preços do Ibovespa. Existe outro risco potencial implícito na estratégia desse fundo. Para proteger o capital do fundo que será devolvido ao cotista caso ocorra o cenário 1, o administrador compra um título de taxa prefixada, cujo emissor pagará o valor de R$ 20 mil no prazo de 18 meses.
O risco de crédito decorre da possibilidade de o emissor do título comprado deixar de cumprir seu compromisso. Técnicas de gestão de risco utilizadas pelo administrador, entre elas a diversificação, reduzem mas não eliminam esse risco.
Moral da história: 1) Se você acredita no cenário de queda na Bolsa, a melhor alternativa é optar por um investimento de renda fixa; 2) Se você acredita que a Bolsa vai subir, e muito, a melhor alternativa é investir em fundo de ações; 3) Se você acredita no cenário de alta moderada, superior ao custo de oportunidade da taxa de juros do período, mas inferior ao limite máximo estabelecido pelo regulamento do fundo, o fundo capital protegido é uma boa alternativa.
Em qualquer cenário, e para investidores que acreditam que "deixar de ganhar" não é perda e que o atributo liquidez não é uma variável importante, pode ser interessante investir em Fundos de Investimento Capital Protegido.

MARCIA DESSEN, certified financial planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

DICAS QUE VALEM DINHEIRO

1 Fundo de investimento fechado é bem diferente de fundos tradicionais e se caracteriza por não permitir resgate antes do vencimento

2 Liquidez tem seu preço. A rentabilidade da estratégia deve, de alguma forma, compensar o investidor que abriu mão de ter seu dinheiro de volta durante 18 meses

3 Leia atentamente o prospecto do fundo antes de aderir. Certifique-se de que conhece todas as características e acredita na estratégia do fundo


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Folhainvest: Ranking dos dez primeiros recebe novo participante
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.