São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2011

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ANÁLISE

Desperdício é um grande gargalo para a competitividade

Além de infraestrutura falha, projetos de investimento enfrentam erros de planejamento e de gestão no país


SOMOS UM PAÍS COM UM SÉRIO VIÉS ANTICRESCIMENTO POR FALTA DE COMPETITIVIDADE. E ISSO GERA UMA GRAVE ARMADILHA


ROBSON GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Produtividade e competitividade não são sinônimos. No Brasil, nos anos recentes, o volume físico de produção por trabalhador tem aumentado entre 2% e 3% ao ano.
Essa é uma medida de produtividade. No entanto, o retorno sobre o investimento produtivo, um indicador de competitividade, é baixo em termos internacionais.
Por quê?
Os gargalos da infraestrutura são sempre citados como resposta. Mas isso suscita uma nova questão. Afinal, o que trava os projetos de investimento? A resposta está no campo dos intangíveis, do chamado capital social.
No Brasil, as relações entre clientes e fornecedores ainda são muito conflitivas. Os resultados dos programas de qualidade ainda estão muito limitados às próprias empresas que os realizam.
Descumprimentos de prazos e especificações, descontinuidades no fornecimento, entregas parciais são um grande pesadelo para empresários e consumidores.
A alternativa lógica seria apelar para a Justiça. Mas, no Brasil, a via judicial é, quase sempre, o conflito levado às raias do absurdo.
Outro elemento se refere à reforma tributária, em discussão há décadas.
Somos um país onde se estuda e se ensina planejamento tributário. Mas, em tese, pagar impostos não é algo que se planeja, pois tributo existe para ser pago.
Esse simples fato demonstra a complexidade de nosso sistema tributário e o quanto de esforço empresarial se perde com uma atividade que sequer deveria existir.
Por fim, nosso grande hiato em termos do capital intangível que sustenta o crescimento se refere a planejamento e gestão.
Importantes projetos de infraestrutura esbarram em longos processos de análise para, em seguida, sofrerem atrasos por conta de erros de execução. A rapidez com que se lançam pedras fundamentais é inversamente proporcional ao ritmo das obras.
Somados, esses elementos e muitos outros que não foram citados resultam em um único fato: o desperdício.
Somos um país com um sério viés anticrescimento por falta de competitividade. E isso gera uma grave armadilha. O crescimento da demanda pressiona a inflação, obriga o Banco Central a elevar os juros e isso, por sua vez, faz com que a alternativa do ganho sem risco no mercado financeiro pareça ainda mais atrativa.
Sem um grande salto no campo desse capital social, o país continuará carente de investimento produtivo.
Entre o capital concreto das obras e o intangível do capital social, a resposta ao desafio da competitividade está com este último.

ROBSON GONÇALVES é professor dos MBAs da FGV e consultor da FGV Projetos.


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