São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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Telefónica retira oferta pela fatia de portugueses na Vivo

Proposta de € 7,15 bi foi vetada pelo governo português, mas PT quer negócio

Portugueses tentam encontrar plano B antes de venderem a Vivo aos espanhóis; parceria com Oi seria alternativa

DE SÃO PAULO

A Telefónica retirou ontem sua oferta de € 7,15 bilhões pela participação da PT (Portugal Telecom) na operadora de celular Vivo. Os espanhóis ofereciam um ágio de 115% e sua oferta venceu dia 16.
A resposta dos espanhóis foi dada após a PT ter enviado um comunicado à Telefónica solicitando que a oferta fosse adiada até o dia 28.
Os portugueses querem mais tempo para tentar encontrar uma alternativa antes de venderem a Vivo.
A operadora brasileira é líder em telefonia celular e representa 46% das receitas da PT. Telefónica e PT dividem o controle da Vivo, com 30% de participação cada uma.
Em maio, a Telefónica ofereceu € 5,7 bilhões pelos 30% da PT na Vivo para assumir seu controle. A oferta foi negada. Os espanhóis elevaram o lance para € 6,5 bilhões e, depois, para €7,15 bilhões.

VETO
Em 30 de junho, 74% dos acionistas decidiram-se pela venda, mas o governo português barrou o negócio usando uma "golden share", ação com poder de veto.
No dia 8, o uso dessa "golden share" foi julgado ilegal pela Corte Suprema da UE. Devido ao julgamento, a Telefónica decidiu estender a oferta até o dia 16.
Horas antes do vencimento, o Conselho de Administração da PT enviou um comunicado à Telefónica dizendo não ter chegado a um consenso no prazo estipulado. A PT disse estar aberta a negociações caso a oferta vigorasse até o próximo dia 28.
O impasse atual se explica pelo conflito de interesses entre o governo português e os acionistas da PT.
Em maio passado, já com a proposta da Telefónica sobre a mesa, o primeiro-ministro português, José Sócrates, esteve com o presidente Lula e, na conversa, quis saber sobre as possibilidades de uma fusão da PT com a Oi.

TELE LUSO-BRASILEIRA
A Folha revelou que, naquela ocasião, Sócrates antecipou a Lula que usaria o veto para ganhar tempo até a PT achar uma saída.
Lula disse que havia interesse em transformar a Oi em uma empresa multinacional e que a fusão com a PT seria uma chance para a criação de uma tele luso-brasileira.
Os acionistas da Oi dizem que esse negócio não vingou. A Folha apurou que essas conversas avançaram, mas as barreiras para o negócio prosperar são enormes. E a Telefónica tem pressa em resolver sua situação.
Os espanhóis têm planos de fundir a Telefônica e a Vivo em uma só empresa para a oferta de pacotes combinados (telefonia fixa, celular, TV paga e internet).
Além disso, querem usar a rede da Vivo para oferecer serviços de telefonia fixa pela rede móvel fora de São Paulo competindo com a Oi.
Para pressionar a PT e o governo português, que corre o risco de ser processado pelos acionistas minoritários em razão da recusa à venda, os espanhóis decidiram encerrar a negociação.
Para a Telefónica, pode ser que, pressionando a PT dessa forma, consiga forçá-la a decidir-se rapidamente antes que a companhia espanhola recorra a um tribunal de arbitragem para a dissolução da sociedade na Vivo. Os espanhóis acreditam que, uma vez desfeita a parceria, poderiam comprar ações da Vivo no mercado até assumir o controle.
(JULIO WIZIACK)


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