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OPINIÃO
Novo governo pode modificar tripé da estabilidade econômica
ERNESTO LOZARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O debate político entre os
dois principais candidatos à
Presidência da República,
Dilma Rousseff e José Serra,
começa a dar forma ao conteúdo da política econômica
do próximo governo.
O primeiro indício é o de
que poderá haver modificações no tripé da estabilidade
e da previsibilidade da inflação.
Esse tripé consiste na política de meta inflacionária, no
câmbio flutuante e na Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Sabe-se que, quando há
intenção por parte da autoridade pública de reduzir a taxa de juros sem limitar os
gastos de custeio, a meta de
inflação e a política de câmbio flutuante perderão consistência econômica.
A política de meta inflacionária exercida pelo BC foi o
elemento básico no programa de estabilidade de preços
dos governos FHC e Lula.
No entanto, entre os candidatos à Presidência surge divergência quanto à autonomia operacional do BC.
Dilma tem demonstrado
confiança na política de meta
inflacionária e, aparentemente, apoia a autonomia
operacional do BC.
Serra pretende reduzir o
grau de independência do BC
e juntar ao Copom os ministros da Fazenda e do Planejamento. Se assim for, fica claro o desejo do Executivo de
influir nas decisões do BC,
tornando-as um instrumento
da vontade do candidato, caso seja eleito.
Dessa forma, a taxa Selic
nunca estará refletindo o
equilíbrio dos juros no mercado, mas uma taxa qualquer arbitrada pelo presidente da República.
É surpreendente que, em
face do reconhecimento do
sucesso no controle da inflação, em vez de se assegurar a
autonomia do BC, procura-se
enfraquecê-la.
As incertezas da inflação e
do "risco Brasil" estão, principalmente, no descontrole
dos gastos públicos federais
na contratação de pessoal e
no elevado custeio da máquina pública.
No período de 1996 a 2009,
os gastos não financeiros do
governo passaram de 14%
para 18% do PIB. As receitas
não financeiras saltaram de
14,5% do PIB em 1996 para
25% em 2009. Isso representou arrecadação em torno de
R$ 750 bilhões em 2009.
O diferencial de sete pontos do PIB entre receitas e
despesas, equivalente a R$
210 bilhões de receita não financeira, foi destinado a cobrir parte do superavit primário e o restante foi para pagar
os deficit da Previdência. Essa leniência fiscal só é possível porque o governo não está sujeito ao rigor da LRF.
No tocante à política cambial, os candidatos são favoráveis à manutenção do câmbio flutuante, mas pretendem restringir a entrada de
capitais externos com fins especulativos, como forma de
conter a valorização do real.
Essa proposição revela o
desconhecimento de que o
câmbio livre oscila, em grande parte, conforme as variações dos juros. À medida que
os juros sobem, o câmbio se
valoriza, e vice-versa.
Assim, se houver um esforço para diminuir os gastos
públicos com pessoal e fazer
a reforma da Previdência, a
demanda do governo por dinheiro no mercado será menor e, assim, reduzir-se-á as
taxas de juros e o câmbio ficará menos valorizado.
Para governar o Brasil
atual não basta o instinto político ou o currículo do governante. Faz-se necessário ter
competência para garantir a
gestão dos interesses públicos, dos direitos de liberdade
e da democracia, comprometer-se com a distribuição da
renda, com a solidez e a independência das instituições
públicas e privadas e com a
valorização da abertura econômica e social.
ERNESTO LOZARDO é professor de
economia da Eaesp-FGV e autor do livro
"Globalização: A Certeza Imprevisível das
Nações".
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