São Paulo, quinta-feira, 18 de novembro de 2010

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Governo britânico promete ajudar Irlanda

Calote irlandês afetaria diretamente alguns bancos do Reino Unido, que possuem muitos créditos no país

Hoje chegam a Dublin técnicos da UE e do FMI para analisar a proposta de Orçamento que o governo espera aprovar

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

O governo britânico anunciou oficialmente ontem que está disposto a emprestar dinheiro para ajudar a Irlanda a sair da crise.
A Irlanda, que resolveu salvar seus bancos da falência em setembro de 2008, está com problemas de caixa e tem sido obrigada a aceitar juros até duas vezes maiores do que os pagos pela Alemanha para conseguir dinheiro no mercado.
O Reino Unido tem duas razões para oferecer a ajuda: 1) bancos como o Lloyds e o Royal Bank of Scotland possuem muitos créditos na Irlanda, e um calote do país pode afetar todo o sistema bancário britânico; 2) a Irlanda é um dos maiores importadores de produtos do Reino Unido. As compras superam as feitas por Brasil, Índia e China juntos.
Uma Irlanda quebrada seria ainda mais dor de cabeça para o governo britânico, que ainda luta para evitar a volta da recessão.
A despeito desses fatos, o ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, diz que a ajuda foi oferecida porque os dois países são "bons vizinhos, não por causa de preocupações com os bancos britânicos".
A União Europeia continua a pressionar a Irlanda a aceitar um pacote de ajuda do BCE (Banco Central Europeu) e do FMI (Fundo Monetário Internacional). O país ainda resiste.
Hoje, chegam a Dublin técnicos da UE e do FMI para analisar as contas e a proposta de Orçamento que o governo espera aprovar no Parlamento no próximo mês.
Na proposta de Orçamento, cortes de gastos para tentar equilibrar as contas.
Mas o mercado acha que os cortes não serão suficientes e teme um calote. Por isso, continua a exigir os juros altos na hora de comprar os títulos irlandeses.
A pressão da União Europeia acontece ainda porque o medo de um calote da Irlanda está colocando sob ameaça outras economias que também estão com problemas de deficit elevados.
Ontem, Portugal teve de pagar juros de 4,8% ao ano para vender papéis com vencimento em 12 meses. Na semana passada, os juros exigidos eram de 3,3%.
Já as Bolsas globais tiveram um dia mais calmo, com os investidores aguardando detalhes sobre o pacote. A Bolsa de Londres subiu 0,19%, e a de Frankfurt, 0,55%. Nos EUA, o índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, teve recuo de 0,14%.

AUTONOMIA
Muitos acreditam que a Irlanda está resistindo para conseguir um acordo que lhe garanta ainda alguma autonomia em sua política econômica. Por exemplo, o pacote pode prever, além do corte de gastos, o aumento de tributos, como a taxa cobrada das empresas para se instalar no país.
Hoje, a Irlanda cobra uma das menores taxas do continente, o que outros países consideram uma concorrência desleal.
Internamente, o governo irlandês também está sob pressão. O agravamento da crise econômica pode acabar com a frágil coalizão que governa o país. Se isso acontecer, as eleições podem ser antecipadas e é pouco provável que o partido populista Fianna Fáil consiga maioria.


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