São Paulo, quinta-feira, 18 de novembro de 2010

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MÁRION STRECKER

Facebook contra o e-mail


Os que criam e-mails grátis por esporte terão mais uma opção: um e-mail com a terminação facebook.com


O FACEBOOK declarou que o e-mail é um sistema de comunicação anacrônico. Anunciou nesta semana o lançamento de um serviço melhor e supostamente mais simples.
O plano é ampliar seu sistema interno de mensagens e de bate-papo e passar a permitir envio de SMS (torpedo do celular) e mensagem instantânea, além de comunicação com e-mails normais, tudo numa só interface: a dele.
O mercado especula qual será a capacidade do Facebook para desbancar gigantes do e-mail grátis como o Hotmail, da Microsoft, ou o GMail, do Google. O Facebook é hoje a maior rede social do mundo e tem mais de 500 milhões de usuários.
Não ter e-mail hoje em dia é quase como não ter RG. Além de ser uma forma prática de se comunicar com pessoas e trocar arquivos, pede-se ou exige-se e-mail para um monte de coisas na vida, desde cadastro em loja, escola ou prefeitura até para entrar em determinados sites na internet.
Há pessoas que usam apenas e-mails grátis. Mas muitos usam e-mails grátis para atividades que, por algum motivo, não querem fazer com seu e-mail principal. Tem também os que criam e-mails grátis por esporte, para testar ou ver se seu nome está disponível ali. Eles agora terão mais uma opção: um e-mail com a terminação facebook.com.
De todo modo, o e-mail grátis vira uma "propriedade" do consumidor. Embora não seja. Se a empresa fechar, babau e-mail. Ainda não criaram a portabilidade de e-mails, exceto quando você mesmo é o dono do chamado domínio do seu e-mail, ou seja, o dono do endereço que vem depois do sinal @ (arroba).
Eu mesma já criei tantos e-mails que perdi a conta. Nem lembro mais da maioria. Uso atualmente três: um do trabalho, um pessoal (embora a separação entre pessoal e profissional não seja tão rígida) e um terceiro que serve de arquivo, para onde reencaminho e-mails dos quais vou precisar no futuro e vou querer achar rapidamente.
Esse terceiro não informo a ninguém, pois só quero receber coisas de mim mesma ali e não ter a obrigação de abrir, a não ser em situações muito específicas -por exemplo, para recuperar o número localizador da minha passagem num embarque ou o de uma reserva de hotel.
Sou altamente dependente de e-mail. Mas o e-mail é um dos maiores infernos da minha vida. Recebo às toneladas, num fluxo quase ininterrupto. Desperdiço preciosas horas diárias apagando aquilo que não vou ler ou tentando educar os sistemas antispam (spam = e-mails não solicitados) sobre remetentes que quero que barrem de uma vez por todas. Produtos e serviços que não quero, de comerciantes que desconheço, maldades virtuais que não mereço, remédios de que não preciso, informações para a imprensa como se eu me interessasse por todos os assuntos do mundo. É fácil demais disparar um mesmo e-mail para Deus e o mundo. E é justamente isso que está matando o produto.
A comunicação se perde. E eu me recuso a contratar pessoas para ler meus e-mails. Se for isso o que o destino me oferece, vou preferir que ninguém os leia, nem mesmo eu. Vou desativar meus e-mails.
O fato é que no meio tempo as pessoas foram adotando outras formas de se comunicar, como o Skype, os torpedos do celular, o MSN, o Orkut, o Facebook e o Twitter.
Mas os e-mails reagiram e foram se tornando plataformas de serviços cada vez mais complexas, adotando filtros e também recursos de seus novos concorrentes, como vídeo, telefonia, aviso sobre contatos on-line, bate-papo, espaço de arquivo permanente, notícias, transformando-se em redes sociais e muito mais.
A esta altura, quando 350 milhões de pessoas já usam o sistema de mensagem interno e fechado do Facebook, trocando 4 bilhões de mensagens por dia, é mais do que natural que cresça o apetite da empresa pela expansão das atividades de comunicação pessoal. Uns dizem que o e-mail do Facebook não teria capacidade de destruir o mercado dos outros, pois o Facebook é por excelência o espaço da vida privada. Mas, até aí, o uso comercial do Facebook está em franca expansão. Na internet, todos estão invadindo a praia de todos. Ou seja, a nossa.

MÁRION STRECKER, 50, jornalista, é diretora de conteúdo do UOL. Escreve mensalmente, às quintas-feiras, neste espaço.

cmarion@uol.com.br
@marionstrecker

AMANHÃ EM MERCADO:
Luiz Carlos Mendonça de Barros



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