São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011

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Minha Casa dá origem a onda de novos empreiteiros

Construídos com recursos próprios, imóveis ficam livres de fiscalização da Caixa durante etapa das obras

Casas são entregues com muitos problemas; prejuízo fica com as famílias, que financiam a compra em até 25 anos

SHEILA D'AMORIM
LARISSA GUIMARÃES
DE BRASÍLIA

As casinhas coloridas se destacam em meio à poeira na chegada a Águas Lindas, um dos municípios mais pobres de Goiás. Marca do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), criado pelo governo federal para incentivar a construção de imóveis para famílias de baixa renda, as cores foram o chamariz para estimular uma legião de empreiteiros independentes.
Nas estatísticas da Caixa, esses novos empreiteiros são classificados como "financiamentos a pessoas físicas", porque os construtores usam dinheiro próprio para tocar os projetos e quem se endivida no banco oficial são os compradores.
Em nove meses, a quantidade de imóveis financiados pela Caixa nessa linha quase triplicou. Em março de 2010, eram 80.389 contratos. Em dezembro, 217.542.
Como os novos empreiteiros não tomam financiamentos na Caixa para construir, ficam livres de fiscalização durante as obras, mas também se beneficiam dos subsídios oficiais. Parte deles, porém, não vem cumprindo os padrões exigidos nas demais linhas do programa.
Resultado: meses após a entrega, as casas apresentam infiltração, mofo, alagamento e rachaduras.
O prejuízo fica com as famílias, que ganham pouco mais de R$ 1.000 e comprometem 30% da renda num financiamento de 25 anos.

SEM MURO
A Folha visitou dez empreendimentos construídos sob a marca do programa -sete em Águas Lindas- e constatou que o MCMV se tornou um negócio bastante rentável, principalmente para empreiteiros que entregam casas sem muro, água e luz. Em algumas construções falta até rejunte no piso.
Os problemas acabam passando pela fiscalização da Caixa, que vistoria os imóveis na hora de liberar o financiamento, e as famílias não têm a quem recorrer.
É o caso dos moradores do loteamento Parque das Águas Bonitas. Construídas por Aparecido Gonzaga Fernandes, várias casas têm problemas de estrutura e foram entregues sem água, luz e muro. Há dois anos, ele era só dono de imobiliária. Hoje, construiu mais de cem casas.
"Na chuva, 90% das casas de Águas Lindas devem ter tido algum problema de infiltração", rebate Fernandes. "O muro aumenta o valor da casa em até R$ 6.000."
As obras financiadas pela Caixa preveem que o "fechamento de divisas deve ser com muro ou alambrado com altura de 1,80 m".


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