Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ENTREVISTA ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA
Brasil e China são inimigos no câmbio
DIRETOR DA FIESP SUGERE TAXA CONTRA CHINA SE YUAN CONTINUAR SUBVALORIZADO
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
"Na guerra cambial, o Brasil não pode ficar do lado da
China, país que roubou milhões de empregos por praticar um capitalismo desleal,
com subsídios tributários, trabalhistas e cambiais."
A afirmação é do economista Roberto Giannetti da
Fonseca, diretor de comércio exterior da Fiesp.
"O Brasil não precisa ter medo da China, que não tem opção à soja e ao minério de
ferro brasileiros", disse.
O economista da Fiesp afirma que é "escandalosa" a
carona da China na desvalorização mundial do dólar.
Isso porque os EUA desvalorizam devido ao duplo deficit fiscal e comercial, enquanto a China é duplamente superavitária. "Todo mundo tem medo da China, por
isso os países articulam uma
ação coordenada pela mudança cambial", disse.
Folha - Brasil e China tinham
várias posições em comum
na reunião do FMI. O Brasil
quer parecer ou é "amigo" da
China na tal guerra cambial?
Roberto Giannetti - Essa
pode ser uma posição de parte da diplomacia brasileira,
mas não acredito que seja
dos ministérios que estão no
front da articulação comercial e nos fóruns globais.
E se for? Há uma visão no governo de que a valorização do
yuan pode levar à queda no
preço das commodities, que
não interessa ao Brasil.
Seria um absurdo completo. O país está se desindustrializando e eles estão
achando que exportar commodity é legal. É totalmente
fora da realidade. Vem aqui
para o chão de fábrica sujar a
mão de graça e depois a gente conversa... Estão vendo
milhares de pessoas ficando
desempregadas por conta da
concorrência desleal com a
China e você vai passar a
mão na cabeça deles?
Isso seria uma proposta de
uma diplomacia míope, dissociada da realidade. Duvido
que algum diplomata em sã
consciência possa achar que
esse movimento coletivo de
reação à manipulação da
moeda chinesa seja algo em
que o Brasil tenha de ficar fora. É de um absurdo inacreditável. Duvido que seja posição oficial. Não tem lógica.
Não pode ser um jogo duplo
para aumentar o poder de
barganha do Brasil?
Não tem jogo duplo nenhum. Nessas negociações, o
país tem de ser muito claro. A
posição é essa e o interesse é
esse. Não tem barganha.
Qual a melhor estratégia?
É participar de uma ação
articulada, coletiva e internacional. Nenhum país isoladamente pode tomar medidas de restrição contra a China, que vai dar risada e não
acontece nada. Fica mais fácil se for um conjunto de países, representando dois terços da economia mundial,
que bate na mesa dizendo:
ou flutua a moeda ou vai colocar 25% de imposto sobre
os produtos chineses. Isso é a
guerra cambial!
A China pode retaliar o Brasil?
O Brasil não tem de estar
preocupado. A China não
tem onde comprar esse volume todo de minério de ferro e
de soja, que responde por
60% da exportação brasileira
para os chineses. A China
não tem de onde comprar esse volume todo. Ou compra
do Brasil ou tem um problema de suprimento e uma crise estrutural. De certa forma,
a China se tornou um país dependente do Brasil.
A China é aberta aos produtos
brasileiros? Setores do Itamaraty dizem que os empresários brasileiros não vão buscar aquele mercado.
A China não tem um mercado aberto para importações; é um mercado administrado. E, com a moeda desvalorizada, a importação fica
cara. Nós temos um preço
muito maior do que o chinês.
Não dá para vender lá.
Texto Anterior: País enfrenta competição chinesa no exterior Próximo Texto: Raio-x: Do entrevistado Índice | Comunicar Erros
|