São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Um pouco mais do mesmo na política monetária

ROBSON GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O governo da presidente Dilma terá que definir suas diretrizes de política econômica antes mesmo de completar seu primeiro mês.
E a equação que precisa ser solucionada envolve as três principais variáveis macroeconômicas: câmbio, gastos públicos e taxa de juros.
As resultantes são outras duas variáveis, igualmente importantes: inflação e crescimento. E o primeiro convidado a participar da equação é o BC, definindo a Selic.
Desde 1999, a política monetária, guiada pela busca de manter a inflação da meta, tem comandado as demais. Sempre que a alta de preços se torna uma ameaça, o Copom eleva a Selic, esfriando crédito e contendo demanda.
Nesses momentos, endividado, o governo se vê diante da necessidade de conter gastos para pagar mais juros. Mas juros altos atraem capitais estrangeiros, e o excesso de dólares derruba o câmbio.
Passada a ameaça inflacionária, a Selic volta a cair, revertendo o processo.

DÚVIDAS
Desde o final da campanha, pairam dúvidas sobre a manutenção dessa lógica. Se o gasto público e o crescimento a qualquer custo se tornarem os pilares da ação do governo, os juros terão que permanecer baixos.
O resultado seria a necessidade de nos conformarmos com uma inflação mais alta. Essa é uma solução possível, mas nada desejável.
Alterar as diretrizes da política econômica agora poderia gerar incertezas grandes demais. E incertezas não são um bom alicerce para o crescimento sustentado.
As atuais pressões inflacionárias precisam ser revertidas. E rápido. Alguns setores estão passando da euforia do crescimento para a angústia do gargalo produtivo.
Um bom exemplo é a construção civil. Em 2010, o INCC subiu cerca de 7%. Mas os custos com mão de obra avançaram mais de 10%. A escassez de pessoal chegou aos canteiros de obras.
Os mais de 2,5 milhões de pessoas que conseguiram emprego em 2010 estão ávidos por consumo. E com justiça. Seria injusto frustrá-los com uma inflação elevada que corroesse o poder de compra de seus salários.
O remédio amargo que é preciso adotar se chama ciclo de alta da Selic. O anterior, ocorrido em 2010, já teve seus efeitos. Mas esses se mostraram insuficientes, pois a inflação voltou a subir.
É certo que teremos que tratar dos efeitos colaterais, com cortes de gastos e contenção dos ingressos de capitais especulativos.
Mas é preciso respeitar a sequência que vigora desde 1999: primeiro a política monetária, depois as demais. Afinal, muitas vezes tudo o que se precisa é um pouco mais do mesmo.

ROBSON GONÇALVES é professor dos MBAs da FGV e consultor da FGV Projetos.


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