São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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Sistema da Apple barra a criação, diz inventor da web

Segundo Tim Berners-Lee, iniciativas desse tipo sempre acabam falhando

Controle da internet é a maior preocupação, declara ele, que agora trabalha em novo tipo da linguagem HTML

Eduardo Anizelli - 18.jan.11/Folhapress
O inventor da internet, Tim Berners-Lee, na feira de tecnologia Campus Party,na terça, em SP

AMANDA DEMETRIO
DE SÃO PAULO

Ter um programa disponibilizado aos usuários de iPhone traz uma série de deveres ao desenvolvedor: ele precisa escrever o software dentro das regras da Apple, usar padrões específicos e, ainda, aguardar pela autorização final da empresa.
Esse tipo de sistema mais fechado cria barreiras e bloqueia uma quantidade enorme de criatividade, segundo um dos criadores da World Wide Web, Tim Berners-Lee.
E ele diz ainda que quem tentou ser assim antes, fracassou depois de um tempo. Berners-Lee esteve no Brasil nesta semana para participar da Campus Party. Leia trechos da entrevista concedida à Folha.

 


Folha - Qual o maior problema da internet atualmente?
Tim Berners-Lee - Estamos em tempos muito empolgantes, mas, quando falo sobre a os problemas da internet, a primeira coisa que me vem à mente é a preocupação de que alguém (grande empresa ou governo) a controle.

O sr. acha que alguém já controla a internet?
Acho que, essencialmente, A web ainda é neutra.

Empresas como a Apple, que apostam em sistemas fechados, comprometem a essência de liberdade da internet?
Quanto a esse modelo, existe o fato de que você não pode carregar o que quiser no seu telefone, mas eles exigem que o programa atenda a uma lista de exigências.
Com isso, as pessoas esperam um mínimo de qualidade. Historicamente, sempre existiram iniciativas globais mais fechadas, mas elas falharam diante do entusiasmo da web aberta.
Aqui mesmo, nesta Campus Party, enquanto falamos, as pessoas estão lá fora inovando na rede, trazendo novas ideias e as compartilhando com seus amigos. Tudo isso sem ter que passar pelos critérios de uma loja de aplicativos. Um sistema mais fechado barra essa quantidade de criatividade.
Geralmente, quando surgem essas iniciativas fechadas, o mundo aberto acaba saindo mais forte.

O sr. já disse que a web ainda Não está pronta. O que vem?
Estamos trabalhando bastante. São iniciativas como o HTML 5 (nova linguagem HTML, usada para escrever páginas da internet) e toda a plataforma de aplicações para a web (programas que são acessados por meio de rede). Com essas aplicações, você pode criar um programa que pode ser usado em qualquer computador.

Com a exposição pública via internet, o conceito de privacidade pode acabar?
Não acho que a privacidade vai acabar. Penso que o mundo vai evoluir para uma nova convenção em relação ao assunto.
Por exemplo, eu coloco fotos de viagem que fiz na adolescência na internet e um possível empregador encontra. Se ele for responsável, Pedirá para mim se pode usar as informações.
A mesma coisa em relação a empresas de seguro. Por exemplo, os registros de navegação dos nossos computadores podem dizer qual a probabilidade de termos câncer no futuro -por dizer que tipo de site frequentamos, por exemplo- e essas informações podem ser vendidas.
Mas a empresa responsável não levará isso em conta para determinar aumento do seguro. Acho que haverá mudança no sentido de fazer um uso aceitável desses tipos de dado, sem acabar completamente com a privacidade.


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