São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2011

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Santa Teresa revive glória imobiliária

Antigo reduto da elite carioca, bairro é alvo de empreendedores e estrangeiros que buscam casarões e terrenos

Nas imobiliárias, os preços de imóveis à venda na região subiram até 30% em menos de um mês

Fotos Fernando Rabelo/Folhapress
Hotel em Santa Teresa, bairro do Rio de Janeiro que vive aquecimento imobiliário desde a operação que pacificou favelas da região, no início do mês

JANAINA LAGE
RAFAEL ANDRADE
DO RIO

Reduto da boemia e da elite carioca no passado, o bairro de Santa Teresa ensaia uma volta aos dias de glória depois da ocupação de nove favelas da região no início deste mês.
A ocupação pela alta classe no século 19 foi descrita no livro "Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro", de Joaquim Manuel de Macedo.
"Não é mais uma solidão como outrora. (...) A cidade quase por todos os lados o cerca e vai pouco a pouco subindo por ele como uma insaciável conquistadora."
É com avidez semelhante que corretores de imóveis têm agora assediado donos de casarões do final do século 19 e do começo do século 20, após o início da pacificação das favelas do bairro.
Nas imobiliárias, os preços de imóveis à venda já subiram até 30%. Entre as construções à venda, há duas belas casas do advogado e ex-governador Nilo Batista.
O longo processo de favelização e o domínio do tráfico deixaram na memória dos moradores os sons de tiros, fogos e bailes funk. Em alguns casos, o abandono se reflete na falta de conservação dos imóveis.
Segundo Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi-RJ (sindicato da habitação), o perfil bucólico do bairro e a localização próxima ao centro permitem uma valorização superior a 50% nos preços.

BOEMIA CHIQUE
Muitos anos antes de a cantora inglesa Amy Winehouse descobrir os encantos da região, o bairro recebeu estrelas como Isadora Duncan e Nijinski.
Atento ao potencial da região, apelidada de "Montmartre carioca" o canadense Gwenael Allan, que trabalhou como produtor de espetáculos do Cirque du Soleil, investe na compra de casas na região desde 2000. "Será o reduto da boemia chique internacional", avalia.
Disposto a continuar no bairro, quer agora se desfazer de parte do patrimônio, incluindo a casa de 1880 onde vive com a mulher e a filha.
Após oito anos de reformas, o preço será de ao menos R$ 3 milhões. Com uma vista que inclui o Morro dos Prazeres, o centro do Rio e a baía de Guanabara, a casa é cercada de micos e tucanos.
"Aqui há um ritmo próprio. O vendedor de pão passa em casa todas as manhãs", conta Beatriz Paiva, mulher de Allan.
O canadense está negociando ainda a entrada de sócios no Solar Real, um casarão usado para festas e lançamentos de produtos. Já recebeu propostas.
Fazer negócios em Santa Teresa ainda tem as suas idiossincrasias. Um corretor ouvido pela Folha relatou ter sido expulso do jardim de uma casa à venda por mais de R$ 1,5 milhão ao levar um francês interessado para conhecer o imóvel.

DESDE WATERLOO
Aos gritos, os proprietários, dois irmãos ingleses, disseram que desde a batalha de Waterloo, em 1815, a família não recebe franceses.
Segundo Cláudio Castro, diretor de vendas da Sérgio Castro Imóveis, a pacificação permitiu uma redescoberta do bairro pelos cariocas.
"Santa Teresa tinha uma espécie de taxímetro de gringo. Só os estrangeiros compravam casas de alto valor."
Um dos primeiros a apostar no bairro carioca, o malaio Yewweng Ho pretende expandir a Quinta Rosa Residências, um casarão do século 19 convertido em vila, que oferece acomodação de curta e longa duração.
Recentemente um empresário da cidade comprou, por mais de R$ 5 milhões, um terreno em um acesso que liga a Lapa ao bairro, para construir uma pousada.


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