São Paulo, domingo, 20 de março de 2011

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MARCELO NERI

Brasil x Brics


Lideramos o G3 do futebol, com 12 das 20 Copas: os Bigs -Brasil, Itália e Alemanha, nessa ordem


OS PAÍSES emergentes conquistam crescente atenção mundial, especialmente depois da recente "débâcle" dos países ricos.
Segundo o acrônimo Brics, criado por Jim O'Neill, da Goldman Sachs, Brasil, Rússia, Índia, China e agora a África do Sul seriam os principais tijolos edificadores da riqueza em 2030. Mais da metade dos pobres do mundo hoje está nesses países. Os Brics importam tanto na riqueza futura como na pobreza presente.
A ascensão dos Brics se reflete na escolha das sedes dos dois principais eventos esportivos do planeta no período 2008 a 2018: China (Olimpíada de 2008), África do Sul (Copa de 2010), Brasil (Copa de 2014 e Olimpíada de 2016) e Rússia (Copa de 2018).
Os Brics acabaram de virar um grupo oficial de países. As tradicionais uniões regionais tipo Mercosul acabam reunindo nações similares. Os Brics são mais interessantes pelas diferenças do que pelas semelhanças. Em particular, o Brasil tem descasado dos demais Brics em algumas dimensões. Senão, vejamos:
Crescimento - o começo das chamadas décadas perdidas de crescimento brasileiras a partir de 1980 quase coincide com o começo do milagre econômico chinês.
O Brasil tem crescido menos do que os demais Brics. China e Índia crescem mais que nós em todos os anos desde 1992.
Há que considerar que nos demais Brics, assim como na maioria dos países desenvolvidos, o principal medidor usado de progresso, o PIB, tem crescido mais que a renda de pesquisas domiciliares (as similares da Pnad brasileira).
Por exemplo, na China, o PIB cresce dois pontos percentuais por ano acima da renda dos domicílios chineses. O oposto acontece no Brasil. Desde 2003, a renda da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) tem crescido 1,8 ponto percentual por ano acima do PIB.
Ou seja, se trocarmos a taxa de crescimento do PIB pela da Pnad entre 2003 e 2010, a goleada aplicada pelos chineses cai de 10% x 4% para 8% x 6%.
Desigualdade - Partindo de níveis bem mais altos, a desigualdade cai aqui e aumenta nos demais Brics. Na Rússia pós-comunista, o índice de Gini, que varia de 0 a 1, tem alta recorde de 0,28 em 1992 para 0,44 em 2008. Já na África do Sul pós-apartheid, o Gini chega à incrível marca de 0,7.
Na década de 2000, as taxas de crescimento anual de renda domiciliar per capita dos 20% mais pobres e dos 20% mais ricos em cada um dos diferentes países foi: China (8,5% e 15,1%); Índia (1,0% e 2,8%); África do Sul (5,8% e 7,6%), enquanto no Brasil o bolo dos mais pobres cresce mais do que o dos mais ricos (6,3% e 1,7%).
Ou seja, o bolso dos brasileiros, em especial dos pobres brasileiros, cresce mais que o PIB. O oposto acontece nos demais Brics.
Felicidade - Segundo o Gallup World Poll, o grau de satisfação com a vida, a média do Brasil em 2009 era 7 numa escala de 0 a 10. Superamos os demais: África do Sul (5,2), Rússia (5,2), China (4,5) e Índia (4,5). Mais do que isso, o Brasil é o único dos Brics que melhora no ranking mundial de felicidade, saindo do 22º lugar em 2006 para 17º em 2009 entre 144 países.
No jogo do crescimento do PIB, acompanhado de perto pelos economistas, os Brics têm goleado os países desenvolvidos. Já o Brasil estaria numa espécie de zona de rebaixamento da primeira divisão dos emergentes.
Já na disputa do dia a dia que importa mais aos demais mortais, leia-se o trinômio dinheiro, desigualdade e felicidade, a comparação com os demais Brics nos é favorável.
Agora, no quesito mais fundamental de todos, aquele que determina a felicidade geral das nações no longo prazo, e depois dele, qual seja a comparação futebolística: esqueçam os Brics, mas não todos os chamados Piigs -Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (Spain)-, que estão quebrados e sem banco de reservas, literalmente.
Os nossos hermanos espanhóis e argentinos que me perdoem, mas o verdadeiro G3 do futebol mundial com 12 das 20 Copas do Mundo disputadas são o que eu chamo aqui de "Bigs", Brasil, Itália e Alemanha (Germany), nessa ordem.

MARCELO NERI, 47, é economista-chefe do Centro de Políticas Sociais e professor da EPGE, na Fundação Getulio Vargas.
Internet: www.fgv.br/cps
mcneri@fgv.br

AMANHÃ EM MERCADO:
MARIA INÊS DOLCI




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