São Paulo, quarta-feira, 20 de julho de 2011

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ANÁLISE

Fim de taxa a etanol nos EUA ocorre em momento ruim

THAÍS MARZOLA ZARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em junho, o Senado norte-americano votou a favor do fim do subsídio dado ao etanol norte-americano e da eliminação das tarifas de importação do etanol brasileiro.
O pacote ainda não foi, todavia, aprovado (deve sê-lo até o fim do ano); ainda assim, já recebeu o apoio de dois importantes centros de estudo, o Council of Foreign Relations e o American Enterprise Institute.
Segundo um estudo deste último, se o objetivo dos EUA é reduzir a dependência do petróleo estrangeiro e as emissões de gases-estufa, não faz sentido a adoção de tarifas sobre o biocombustível brasileiro.
Com isso, a demanda pelo etanol brasileiro deve aumentar exponencialmente num futuro não muito distante -mas vai encontrar a produção brasileira no contrapé.
Para 2011, em relação à oferta do combustível do anopassado, o governo espera uma redução de 15%, enquanto os usineiros falam em 12%. Os preços ainda se encontram mais elevados do que deveriam, haja vista que a safra deste ano já começou a ser colhida.
Não só isso, as plantações estão com baixo nível de renovação e produtividade (reflexo dos problemas financeiros do setor em 2008 e 2009).
Somado a isso está o fato de que a decisão de novos investimentos segue inibida por margens baixas, comprimidas entre o aumento do custo da terra e dos insumos e a limitação de preço no mercado interno, dada pelo preço do principal concorrente, a gasolina.
As demais commodities agrícolas passaram por um expressivo aumento de preço, o que incentivou a competição por recursos para a agricultura.
Qualquer política de incentivo à produção de etanol no Brasil precisará focar ações de redução dos custos -via desoneração tributária direta (retirada temporária da Cide, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, por exemplo), via melhoramento da infraestrutura de escoamento e de transporte ou via ampliação e barateamento do financiamento do setor (através do BNDES, por exemplo).
Mesmo assim, é preciso notar que os investimentos no setor levarão tempo para maturar (em geral, quatro anos).
Qualquer outro tipo de ação que tenha por objetivo ampliar a oferta de etanol no curto prazo, mas que reduza lucratividade do empresário (como, por exemplo, a tributação das exportações de açúcar), pode ter efeito inverso ao desejado no longo prazo.
Em suma, o fim dos embargos ao etanol brasileiro nos EUA é uma ótima notícia.
Pena que chega num momento em que a oferta não consegue sequer atender ao mercado doméstico.

THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.
www.rosenberg.com.br



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