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Brasil faz lobby por TV digital na África
Meta é emplacar o sistema japonês, o mesmo do Brasil, e abrir mercado
Venda de software para TV digital na América do Sul representou 30% do faturamento do setor no ano passado
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
Um grupo de empresários
e funcionários do governo
brasileiro desembarcou ontem em Johannesburgo com
uma tarefa difícil: convencer
a África do Sul e mais dez países do continente a adotarem
o padrão de TV digital japonês, usado pelo Brasil.
A missão integra um esforço de lobby -ou "divulgação", como prefere o Itamaraty- para reverter a inclinação sul-africana a adotar o
padrão europeu. A chancelaria estuda até mesmo uma
carta do presidente Lula a
seu colega Jacob Zuma para
catalisar o processo.
Tanto o Brasil como o Japão, detentores da tecnologia, estão de olho no mercado de 250 milhões de pessoas
representado pela SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral).
O bloco inclui economias
em ascensão como Angola e
Moçambique e deve bater o
martelo em novembro, seguindo a decisão da África do
Sul, potência regional.
As emissoras de TV e o
nascente setor de eletrônica e
softwares do Brasil estão animados com a possibilidade
de negócios com a África
após ganharem a América do
Sul (exceto Colômbia e Uruguai) para o sistema japonês,
ISDB-T (Sistema de Serviços
Integrados de Transmissão
Digital Terrestre, em inglês).
Segundo André Barbosa,
assessor da Casa Civil para o
tema, estima-se que a venda
de software para TV digital à
região tenha respondido por
até 30% do faturamento do
setor no último ano, "cerca
de US$ 200 milhões".
O Brasil também fabrica
aparelhos transmissores para TV digital e conversores,
mas concorre com a produção japonesa.
"Os japoneses invadiram a
América do Sul, e até agora
só fizemos uma venda, para o
Chile", diz Carlos Frutuoso,
da Linear. A empresa, que fabrica transmissores em Minas, fecha agora o primeiro
grande contrato com um país
sul-americano, para vender
mais de 40 aparelhos -mais
do que já instalou no Brasil.
"TV SOCIAL"
A África é a fronteira final
da TV digital. Trata-se do último continente que ainda não
se decidiu por um padrão.
Segundo Hadil da Rocha
Vianna, diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Itamaraty, o ISDB-T é o
mais adequado a países como o Brasil devido às suas
"qualidades sociais". Prioriza a transmissão de TV aberta gratuita para celulares, e o
sinal resiste a interferências.
O europeu DVB, mais adotado no mundo, é o favorito
das teles, que poderiam entrar no mercado de TV. "Iam
querer cobrar por jogo de futebol no celular, e no ISDB-T
é gratuito. Para a população
pobre, isso é fundamental."
Outra vantagem é o fato de
ser livre de royalties e aberto
a aportes de tecnologia dos
países que o adotam.
O Brasil, primeiro a adotar
o sistema, criou um software
chamado Ginga, que permite
interatividade. Ele está sendo testado no Peru e no Chile.
REVERSÃO
Na África do Sul, a disputa
terá de reverter a decisão tomada pelo DVB -sua implantação foi congelada graças ao lobby nipo-brasileiro.
O sistema é o preferido dos
radiodifusores sul-africanos,
e alguns já compraram transmissores para o padrão europeu -que, ironicamente, foram fabricados no Brasil.
"Uma decisão dessas não
se reverte assim fácil. Em dez
anos será preciso ter trocado
todos os equipamentos",
afirma Rehana Dada, produtora de TV sul-africana.
Por outro lado, diz, a TV
estatal SABC, principal da região, passa por turbulências
políticas em sua direção.
"Não imagino que decisões importantes ou mudanças de tecnologia sejam possíveis no futuro próximo",
afirma a produtora de TV.
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